Realizamos um workshop com quatro deputados federais, um deputado estadual, dois vereadores de Cuiabá, um ex-vereador, um ex-senador e mais 50 pessoas, entre intelectuais das mais variadas origens e formações, na última segunda, para debater o que chamamos de “percepção do eleitor cuiabano sobre os deputados federais de Mato Grosso”.
Presentes os deputados Carlos Abicalil, Eliene Lima, Homero Pereira e Pedro Henry. Como debatedores, a cientista política Alair Silveira e os jornalistas Janaína Pedrotti, Marcos Lemos e Onofre Ribeiro.
A soma das intervenções feitas traduz de modo muito legítimo praticamente a totalidade das interpretações possíveis sobre alguns fenômenos detectados pela KGM em pesquisa realizada em março, como 72% de esquecimento nos candidatos a federal ano passado, 64% de desconhecimento da atribuição de um parlamentar federal, e mais de 60%, em média, de desconhecimento sobre quem são nossos legisladores de Brasília.
Anoto algumas considerações feitas por deputados e debatedores:
1) Há um distanciamento muito grande do deputado federal com o cidadão, na base. Muitos inclusive afirmaram que o grau de conhecimento sobre os deputados estaduais deve ser maior.
2) As crises políticas diversas, sobretudo as do ano passado, como Mensalão e Dossiegate, afetaram negativamente a imagem dos deputados federais em geral.
3) Há um desinteresse natural das pessoas comuns por política.
4) Por outro lado, os baixos índices de conhecimento e aprovação da nossa bancada pode significar um protesto mais ou menos consciente da população.
5) Os deputados federais se comunicam mal, o que potencializa a deformação da sua percepção pela população.
6) A mídia ou imprensa em geral estimula a cobertura de crises, enquanto dá pequena ou nenhuma importância para as ações positivas dos parlamentares.
7) Os deputados, como os políticos em geral, só são melhor percebidos quando dão resultados práticos para as pessoas comuns.
8) A situação exige uma reflexão coletiva, a partir dos próprios deputados (principais vítimas da percepção generalizadamente negativa), mas também da sociedade e da imprensa.
Uma linha puxada por Onofre Ribeiro, mas defendida também pelos demais participantes do workshop, sustenta mais ou menos o seguinte: vivemos uma espécie de caos social e político. Mas, o período de normalidade estaria por vir. Já Carlos Abicalil coloca que os “nãos” manifestados pelos eleitores cuiabanos na pesquisa da KGM demonstram certa intenção de sua parte, e isso nos chama a todos à reflexão.
Penso que a situação em que vivemos tende a durar um bom tempo. Não porque concorde plenamente que vivamos no caos. Entendo os nãos do eleitor com uma dose de consciência, certamente, mas aquela consciência típica da pós-modernidade – tema a que tenho recorrido muitas vezes aqui nesse espaço.
É o estado de consciência em que os indivíduos não se dispõem a envolver-se nas questões sociais, preferindo cuidar apenas daquilo que está ao seu alcance pessoal. Como os problemas da sua quadra, da sua rua, do seu quintal.
É o estado da deserção social, substituída pelo prazer pessoal, pela satisfação de pequenos grupos, tais como família, amigos íntimos, etc. É o hedonismo substituindo as ideologias, superando e até negando a política. No que isso vai dar, bem, essa resposta merece um outro workshop.
Kleber Lima é jornalista pós-graduado em marketing e analista político em Cuiabá