sexta-feira, 26/julho/2024
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Crescimento desarticulado

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O Brasil, como tem demonstrado vários estudos e pesquisas, nas últimas cinco ou seis décadas tem experimentado um processo de crescimento econômico muito desigual e desarticulado, afetando negativamente os demais setores da sociedade. Tomando como ponto de referência a década de cinqüenta, quando nosso país praticamente deixou de ser uma sociedade agrária e passou a ter uma feição mais urbana, os nossos índices de crescimento econômico passaram por várias fases desde altas taxas até estagnação em alguns anos.

Existem diversos fatores que inibem que o processo de crescimento seja mais uniforme. Alguns desses fatores são responsáveis para que o Brasil ainda continue com áreas/regiões e grupos sociais ostentando índices e padrões de vida semelhantes aos países desenvolvidos ao lado de outras regiões, setores e grupos sociais extremamente atrasados, defasados no tempo e com índices de crescimento e qualidade de vida próximos aos que marcam os países mais pobres e miseráveis da Ásia, África e America Latina, apesar de que nossos governantes e elites do poder tanto se orgulhem de que somos a oitava economia do mundo. Existe uma grande desarticulação espacial em nosso país. Há uma enorme distância social e econômica entre a maior parte dos municípios das regiões Norte e Nordeste e parte do Centro-Oeste, em relação às regiões Sul e Sudeste. A falta de infra-estrutura física ou a péssima qualidade da existente mantém milhões de pessoas praticamente isoladas do restante do Brasil.

Enquanto países do mesmo porte que o nosso, em termos de dimensão territorial, conseguiram integrar-se há quase cem anos por rodovias, ferrovias, hidrovias e transporte aéreo como ocorre nos Estados Unidos, na China, na Austrália e na Rússia, a nossa infra-estrutura nesta área é uma lastima, acarretando altos custos para o setor de logística e dificultando a competitividade do setor exportador nacional frente à concorrência internacional.
Neste particular, ou seja, em relação à participação do Brasil no comércio internacional, há mais de 50 anos nossa posição praticamente não tem mudado. Em 2009 a nossa participação nas exportações mundiais foi de 1,2% e nas importações 1,1%, ocupando a 23ª e 24ª posições, respectivamente, entre os 30 países com maior presença no comércio internacional, os quais representam 84,3% de todas as importações e 78,7% de todas as exportações mundiais, não fazendo, portanto, jus ao tamanho de nossa economia.

Todos os países desenvolvidos, os emergentes e os integrantes do BRIC, com exceção do Brasil, há mais de duas décadas têm no setor do comércio exterior, principalmente nas exportações de bens acabados e que agregam valor, um dos mais fortes componentes do processo de desenvolvimento. Além desta participação bem modesta também tem o fato de que boa parte de nossas exportações é oriunda do setor primário da economia (produtos agropecuários e minérios) com pouca agregação de valor, enquanto nossas importações são de produtos acabados que agregam muito mais valor provocando uma desigualdade nas relações de troca. Para que nosso processo de desenvolvimento seja mais efetivo e menos desarticulado precisamos dar um salto qualitativo em nosso processo de industrialização e de prestação de serviços, incluindo a melhoria e ampliação de nossa infra-estrutura e logística, evitando os gargalos, o desperdício e o chamado custo Brasil. Neste particular o “calcanhar de Aquiles” é a ineficiência, a morosidade e o excesso de burocratização que caracteriza nosso setor público.

Em 2010 o Banco Mundial realizou um estudo denominado “Realizando negócios no Brasil” e a nossa realidade na relação entre poder público e o setor empresarial é uma verdadeira lástima. O tempo para abrir ou encerrar uma empresa no Brasil chega a ser 200 vezes mais do que em vários países que tem avançado nos processos de mudanças e de desenvolvimento. Percebe-se claramente que existem muitas dificuldades, entraves legais e burocráticos os quais acabam gerando ineficiência no setor privado e também estimulando a corrupção, um dos maiores entraves no processo de desenvolvimento econômico e social, além do político, já tão bem documentado.
Outro ponto de estrangulamento é a questão da formação dos recursos humanos, principalmente a mão-de-obra, necessários a uma maior dinamização do processo de desenvolvimento. Ainda convivemos com altas taxas de analfabetismo, semi-analfabetismo ou analfabetismo funcional, situação incompatível com uma era em que o domínio tecnológico é fundamental. Não bastassem esses aspectos, nossa educação, em todas as fases: do ensino fundamental, ao médio e superior é horrível, de baixa qualidade, como tem demonstrado os dados do Enem, do Enad e outras avaliações do próprio MEC. Ano após anos as agencias internacionais têm demonstrado que estamos péssimos na foto, em todos os rankings apresentados o Brasil ocupa posições bem abaixo da maioria dos países do mesmo porte.

Há poucos dias um jornal de grande circulação na Inglaterra em parceria com um instituto de pesquisa apresentou um ranking das melhores universidades do mundo. A Melhor universidade brasileira – a USP – aparece na 232ª posição demonstrando que também nosso ensino superior é um grande engodo e um fracasso sem precedentes no contexto mundial quando comparado com os países desenvolvidos e os chamados emergentes.
O Brasil tem déficit de engenheiros e de vários outros profissionais técnicos, demonstrando que tudo isto, juntamente com a enorme carga tributária e os desníveis sociais impedem que nosso país possa dar um salto qualitativo em termos de futuro. Há décadas fomos acostumados com uma frase que coloca o Brasil como país do futuro, mas parece que este futuro nunca chega, está sendo no porvir. Esta idéia em conjugação com parte da letra de nosso hino nacional – “deitado eternamente em berços esplêndidos” – bem demonstram as razões de nosso atraso e processo desarticulado de crescimento econômico, quando o que deveríamos buscar seria realmente um processo de desenvolvimento mais harmônico, mais efetivo e mais dinâmico.

Para que isto aconteça a população precisa participar mais, escolher melhor seus governantes em todas as esferas de governo, os empresários terem uma ação mais pró-ativa e reduzirem a busca das benesses que as vezes sugam nas tetas do governo, principalmente alguns setores privilegiados e nossas instituições deveriam passar por um profundo processo de mudanças e transformações, incluindo os partidos políticos e os três poderes da Republica.
Só assim podemos recuperar o tempo perdido e avançar de forma mais rápida para ocupar um lugar no cenário internacional compatível com a estatura geoestratégica que desejamos e como dizem os ufanistas, merecemos!
 
Juacy da Silva, professor universitário, aposentado UFMT, Ex-Diretor da ADUFMAT e ex-Ouvidor Geral de Cuiaba, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias.
www.justicaesolidariedade.com.br
[email protected]

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