Um dos grandes, talvez o maior desafio da existência humana é a busca da eterna juventude. Se pudessemos seriamos irmortais e jamais envelheceriamos. Já imaginaram a gente podendo viver cem, duzentos ou mais anos sempre jovem, saudável, com alegria, espírito positivo e sem as marcas do tempo como as rugas, as dores, as doenças crônicas características da velhice como demência ou prblemas de memória, alzheimer’s; parkinsons, dificuldades de locomoção, de visão, de audição, rabugice e tudo o que contribui para a exclusão social, econômica, política, cultural, religiosa e familiar?
Sim, quem tem o “privilegio” ou castigo de chegar ou passar dos oitenta, noventa ou cem anos, se estiver em plena lucidez sabe muito bem o que são essas marcas do tempo. As exteriores todos os parentes, amigos e até desconhecidos podem notar com um simples olhar, muitas vezes com olhar de deboche, de escárnio, de desprezo; mal sabendo a trajetória daquela pessoa marcada pelo tempo e que teima em não deixar o convívio terreno, para alegria de alguns e tristeza de outros.
Todavia, as principais marcas do tempo não são percebidas pelos que estão próximas ou mais distantes dessas pessoas que teimam em continuar vivendo mesmo que com tantas caracteísticas que as marcam profundamente. São as marcas emocionais, as saudades de parentes e amigos/as que já se foram, se transladaram para outras dimensões; saudades de quando eram crianças, adolescents, jovens, adultos. Saudades dos filhos, dos irmãos, irmãs, enfim, parentes próximos com os quais conviveram e desfrutaram de momentos felizes e outros as vezes não tão felizes.
Essas lembranças , para idosos e idosas que chegam tão longe na existência humana e ainda continuam com memória boa ajudam na sobrevivência interior, razão pela qual é comum a tais pessoas repetirem as mesmas estórias por diversas vezes como um exercício mental para não se esquecer dos tempos idos e vividos.
Todavia, a maior marca emocional que pouca gente entende é a frustração; não no sentido de estar impedido de realizar a contento as tarefas que tão bem realizaram ao longo da vida como cuidar da casa, de filhos, netos, trabalhar para prover o sustento da família, encarar os desafios do cotidiano como as vezes o desemprego, o subemprego, as maratonas do transporte coletivo, as precarias condições de vida. Sim, a grande marca interior do envelhecimento é sentir-se excluido, ignorado, vilipendiado e as vezes maltratados fisica e psicológicamente. É comum as notícias de maus tratos e de abandono de idosos e idosas, principalmente se os mesmos forem pobres e não tiverem condições financeiras de se auto-sustentarem, revelando que a idéia de que envelhecimento é sinônimo de “mehor idade” não se coaduna com a realidade que ronda milhões e milhões de pessoas idosas ao redor do mundo.
Considerando o perfil demográfico brasileiro e os estudos de tendência que têm sido realizados, nosso país deverá ter uma enorme população acima de 80 anos, quando então todos esses aspectos deverão estar presentes e não poderão ser ignorados nem pelo governo e nem pelas famílias e as comunidades. Este é com certeza um dos maiores desafios que o Brasil deverá enfrentar nas próximas e futuras décadas, para que não venhamos a ter que conviver com enormes contingentes de idosos abandonados. Hoje a maior preocupação está voltada para as crianças e adolescents, parece que estamos esquecendo que dentro de poucos anos a população idosa será muito maio do que as crianças e adolescentes. O perigo é continuamos com crianças e adolescents abandonados acrescidos dos idosos/as abandonados.
Esta falta de preocupação em relação ao futuro poderá criar uma geração dos eternos excluídos, até que a morte os exclua definitivamente, como acontece com mais de cem mil pessoas que a cada ano são vítimas fatais em acidentes de trânsito e de homicídios!
Este é ano de eleição, será que os candidatos estão pensando apenas nesta ou nas próximas eleições ou no futuro da população brasileira? Será? Que tal um rolezinho dos idosos/as antes e durante as eleições? A hora de mudar é agora, depois será tarde demais!
Juacy da Silva, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia. Email [email protected]