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Arcanjo, Duda Mendonça e o PSDB

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O ex-comendador João Arcanjo, que ficou famoso por comandar o crime organizado em Mato Grosso, teria muito que contar sobre supostas ligações promíscuas com o Governo do PSDB, entre 1994 e 2002. Preso no Uruguai, ele deve ser extraditado em breve. E essa expectativa, como se lê nas folhas, causa preocupação ao tucanato, já que as suspeitas alimentadas ao longo desse sinistro período são de que o ex-bicheiro teria sido parte integrante da “Era Tucana”.

A história de Arcanjo é um livro aberto, e a sua leitura entristece pelo que seus métodos violentos causaram a inocentes, assim como provoca revolta pela maneira como ele teria se apropriado de setores estratégicos da máquina pública estadual, num dos períodos em que o Estado regrediu no desenvolvimento. E, infelizmente, se notabilizou pelo fortalecimento do crime organizado.

Um triste pedaço da história deste Estado revela que o ex-bicheiro adquiriu fama e inspirou tanto temor porque, com a conivência dos gestores de plantão, se impôs no cenário político e administrativo, sendo visto como o legítimo chefe das forças de Segurança e de outros setores do Governo tucano. Estariam aí as razões pela quais alguns líderes do PSDB vivem em permanente estado de pânico diante da anunciada volta de Arcanjo e da possibilidade de ele abrir o bico.

Ainda assim, os chefes tucanos – em especial, os que conviveram com o ex-comendador – insistem em se apresentar à sociedade como paladinos da moralidade, arrotando ética e honestidade. Pior, pregando uma ridícula “retomada do Poder”. Na rolagem dos discursos que vêm por aí, a retórica fajuta das “mãos limpas” vai imperar. Como reinou, nos oito anos da Era Tucana, a baboseira das obras que, no final, se constatou serem meramente virtuais.

Não bastasse o fantasma de João Arcanjo, eis que a revista “Veja”, em suas duas últimas edições, tornou mais insones as noites tucanas ao relatar as peripécias de Duda Mendonça. Apresentado como “marqueteiro bandido”, o publicitário baiano, de mago de memoráveis campanhas majoritárias virou “um especialista em Caixa 2”, além de “um profundo conhecedor de detalhes comprometedores de campanhas eleitorais no Brasil”.

Em 1998, numa campanha para governador avaliada em R$ 5 milhões, conforme Veja, o esquema nebuloso e sinistro de Duda reduziu os custos para “miseráveis” R$ 500 mil, para efeitos de prestação de contas na Justiça Eleitoral. Naquele ano, entre tantas, Duda fez a campanha da reeleição do então governador mato-grossense Dante de Oliveira, com o slogan “Casa arrumada, hora da virada”.

Naquele período, conforme relata a revista, um candidato a governador (nome não revelado) contou as mil e uma maneiras que Duda Mendonça utilizava para fazer campanhas e atender aos caprichos políticos e/ou pessoais dos seus candidatos. Como, por exemplo, aceitar os pagamentos em dinheiro, cheques, por meio de empreiteiras (as notórias e generosas patrocinadoras de campanhas eleitorais) e até em contas suspeitas abertas em “paraísos fiscais”.

Hoje, acuado pelas denúncias de recebimento de dinheiro de Caixa 2, contratos fraudulentos, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, Duda ameaça contar todos os podres que ainda não contou acerca dos pagamentos de campanhas de governadores, deputados e senadores nas últimas três eleições. Não só do PT, mas de todos os partidos políticos.

No momento em que o tucanato, aqui em Mato Grosso, promete fazer do debate ético (apesar de não ter moral para dar aulas de ética) um dos pilares de sua propaganda eleitoral neste ano, seria até interessante que Duda Mendonça abrisse o bico e contasse tudo o que sabe acerca de “esquemas” em campanha eleitoral. Assim, a gente poderia elucidar um grande mistério que, até hoje, marca as eleições de 2002: o de que o senador tucano Antero Paes de Barros, segundo suas próprias declarações, gastou “apenas” R$ 400 mil (contra uns R$ 10 milhões de Blairo Maggi) na sua campanha para o Governo de Mato Grosso.

Convenhamos, é difícil alugar carros e aviões para percorrer um Estado de dimensões continentais como Mato Grosso, pagar cabos eleitorais, combustíveis, alimentação e material de campanha com essa irrisória quantia. Teria Duda Mendonça operado algum milagre por aqui?

*Antonio de Souza, jornalista, é consultor de Comunicação da Oficina do Texto, em Cuiabá.
[email protected]

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