sexta-feira, 26/julho/2024
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Adir Sodré, eu vi!

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Talvez vez não seja a hora nem o momento, mas peço licença da campanha eleitoral para escrever este artigo. Sou cuiabano, filho de uma cuiabana com um mineiro. Uma professora de história, atriz de rua, intimamente ligada à história do passado da arte popular cuiabana e um jornalista apaixonado por essa terra. Então, carrego no sangue e na pequena história da minha vida, 27 anos, vários momentos marcantes nessa relação com Cuiabá e a arte.

Vi e cresci na barra da saia de figuras como Chico Amorim, Meire Pedroso, Liu Arruda, Ivan Belém, Luiz Carlos Borges, Glorinha Albues, Lorenzo Falcão, Eduardo Ferreira, e muitos outros. Por natureza, gosto de arte, mas confesso, nunca tinha sentido o efeito sincero que uma manifestação artística tem. E confesso mais ainda. Nunca imaginaria que viveria isso em uma campanha política. Mas vivi.

Vivi no meio de uma campanha hostil a experiência de conhecer a potência que tem a delicadeza da arte popular na vida das pessoas. A semana que passou foi mágica. Uma peixada na casa da ativista mais fiel da arte cuiabana, Aline Figueiredo. Peixada de verdade. Peixe frito, peixe assado, mojica, arroz branco, farofa de banana e pirão. Certo! Vivi um Guilherme Maluf do jeito que ele gosta de ser. Simples, de camisa aberta, comendo peixe com a mão mesmo, sem câmeras, se deliciando do arsenal de propostas para a cultura que saiam da boca de Aline Figueiredo.

Aquele encontro ficou na minha cabeça. A semana correu e veio a sexta-feira, ai as sextas. Agenda cheia. Visitas intermináveis pela manhã, reuniões internas a tarde e reuniões políticas a noite. Quando a casa da Aline ia saindo do meu cotidiano, eis que me deparo com uma agenda nada convencional. Eram 23 horas. Saímos da última reunião no Residencial Paiaguás direto para centro. Rua 12 de Outubro

Nem eu, nem Guilherme, nem Toti, nosso guia motor nessa caminhada, imaginaríamos o que íamos viver naquele restinho de noite. Ali, produção montada para uma cena que ninguém poderia roteirizar. Um altar, uma tela. Pincéis no chão, isopor lotado de gelo, Beatles, Caetano e outros sons que só ninguém tem em Cuiabá, só ele. Adir Sodré. Lembro dele desde criança, mas nunca havia estado tão perto.

De branco, ele entra no ambiente sem formalidades. A casa é dele. A conversa com Guilherme é rápida, poucas palavras. Tudo que ele queria dizer ele pintaria minutos depois. Guilherme se senta, silêncio total. De fundo apenas as trilhas escolhidas por Adir. "She"s got a ticket to ride…", "Virá que eu vi, tranquilo e infalível como o Bruce Lee…".

Em poucos minutos, não tem uma só pessoa naquele ambiente que não esteja enfeitiçada, mas só posso falar da minha impressão. A cada pincelada, a cada trecho de música que Adir cantava, eu olhava Guilherme. Olhar fixo, boca literalmente aberta, preso totalmente à criação do artista à sua frente. Segurar o marejar dos olhos pra mim era impossível. A sensação era mesmo fantástica.

Aquele momento me fez lembrar outros históricos pra mim. A separação dos meus pais, a minha formatura, meu drama, meu casamento, o nascimento do meu filho. Não entendi, mas foi assim. Uma arte muito doida mesmo. Centenas de telas em uma só. A cada segundo uma tela diferente, a cada olhar uma sensação a mais. E Guilherme, bom, Guilherme mudou. Acordou para a importância da arte. Quis trazer a mulher, os filhos, os pais, todos para sentir o que ele estava sentindo. Na loucura Nobel de Adir Sodré, Guilherme, eu, Toti, conhecemos o que a arte pode fazer na vida das pessoas. E mais. Agora, temos a certeza de que não existe governo, não existe programa social, não existe educação, não existe segurança, não existe saúde, não existe nada sem arte. Mas isso, Guilherme, tem que chegar ao povo. É do povo que ela nasce, dos bairros. É para os bairros que ela tem que voltar. A emoção de ver Adir, a sua arte, a mesma emoção que sentimos, precisa acolher também o coração dos mais carentes.

Eu vi Guilherme e Adir.

Eu vi um Toti sorrir, lá do sucuri, com a arte daqui.

Eu vi, a história que nunca sonhei assistir. Eu vi, Guilherme e Adir!

*Raoni Ricci é jornalista cuiabano – [email protected]

 

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