No último domingo (07 de outubro), 115,7 milhões de brasileiros e brasileiras, do campo, das pequenas, médias e grandes cidades, algumas entre as maiores do mundo, compareceram `as urnas para esolherem novos prefeitos e vereadores. Deste total 3,8 milhões votaram em branco e 9,1 milhões anularam seus votos. Além desses, também 23,2 milhões de eleitores ,mesmo que o voto no Brasil seja obrigatório e sujeito a penalidades para quem não votar, deixaram de comparecer a esta "festa da democracia".
Somando-se as abstenções com os votos nulos e em branco, 36,1 milhões de eleitores deixaram de exercer o direito de escolher seus futuros governantes municipais pelas mais variadas razões, muitas das quais justificáveis. Este universo representa 35% dos número dos votos válidos, ou seja, para cada tres votos válidos um foi considerado peso morto ou zero em termos de cidadania.
Em Mato Grosso 18,2% ou seja, 395 mil dos eleitores abstiveram-se de votar e outro tanto votaram em branco ou nulo. Em SP, na capital, em torno de quase um milhão, no Rio de Janeiro mais de quinhentos mil e assim por diante.
Todavia, não podemos crucificar esses mihões de brasileiros. Talvez esta seja uma forma de protestar contra o que há décadas vem ocorrendo no cenário politico brasileiro, onde a incompetência, a falta de transparência, a corrupção alimentam um modelo e sistema politico ultrapassado e decepcionante.
A forma pela qual os partidos escolhem seus candidatos, fazem alianças e coligações demonstram que todos os partidos estão a mercê de caciques ou verdadeiros donos. Falta aos partidos a verdadeira democracia interna e também a abertura para que possam ser mais representativos. A gestão pública é um verdadeiro balcão de negócios que modernamente atende pelo nome de "governabilidade",em substituição ao toma lá dá cá. Isto se intensifica com a realização do segundo turno, onde os acertos e apoios acabam transfigurando a futura administração.
Neste contexto, os eleitores não têm nenhum poder em relação aos partidos quanto a escolha dos candidatos e os mesmos só tem duas opções: a) homologarem nas urnas quem já foi escolhido pelos partidos ou b) deixar de votar em tais candidatos. Este seria o recado que esses milhões estão passando as nossas autoridades do sistema eleitoral, aos candidatos e aos caciques políticos.
Há muitas décadas, em meados dos anos sessenta, os eleitores paulistanos sufragaram o Cacareco, um rinoceronte que teve mais votos do que o vereadormais votado para a Câmara paulistana. Naquela época o eleitor podia escrever na cédula eleitoral. Podia ser um palavrão ou votando em um animal irracional, mas que na opinião do povo era melhor do que todos os candidatos.
Atualmente com o aperfeiçoamento eletrônico, com a informatização do processo eleitoral, uma verdadeira maravilha do terceiro milênio, o povo brasileiro continua extremamente decepcionado com suas lideranças políticas e com seus governantes. Se o voto fosse facultativo no Brasil, possivelmente o registro eleitoral e o comparecimento `as urnas seria muito menor, reduzindo ainda mais a representatividade dos eleitos.
O mensalão e a demissão de vários ministros do atual governo e dos anteriores também, por corrupção, a demissão e prisão de secretarios, as famosas CPIs, os inquéritos da polícia federal e do ministério público demonstram que a administraação pública brasileira tem vivido uma verdadeira orgia com o dinheiro público.
Tudo isto acaba caindo da vala do esquecimento e da impunidade. Talvez ou possivelmente esses 35% de eleitores brasileiros que deixaram de votar ou votaram em branco ou nulo estejam querendo deixar uma mensagem que pouca gente, na euforia das vitórias ou na tristeza das derrotas teimam em não escutar ou fazer que não entendem esta forma de protesto silencioso!
Nossos governantes precisam ouvir também esta outra mensagem que emerge em todas as eleições. Esta também é a voz das urnas! É um grito de alerta para nosso país possa vivenciar uma verdadeira democracia!
Juacy da Silva, professor universitário, mestre em sociologia. Colaborador de Só Notícias. [email protected]