Milho de pipoca que não passa pela prova do fogo, continua sendo milho para sempre.
Assim acontece com as pessoas. Suas grandes transformações só ocorrem quando passam pela prova do fogo, cuja chama simboliza, também, equilíbrio, aspiração, e fé. Lembrando-nos que devemos estar sempre em pé e à ordem, com coragem, trabalhando ininterruptamente, pela causa em que nos empenharmos, sempre disponível para a prática do bem.
O equilíbrio em nossas ações, deve nortear o nosso caminhar. Semear esperança é dever de todo aquele que já encontrou a luz da verdade. Algumas vezes, a subida se faz mais difícil, faça, então, uma pausa, adentre no santuário silencioso da prece, e com fé sentirá a presença amiga daqueles que o amam e o guiam.
Assim, quem não passa pela prova de purificação do fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa sem que elas percebam e achem que o seu jeito de ser e suas atitudes são normais, mesmo que vão de encontro as do próximo. Mas, de repente, vem o fogo. A prova do fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor física ou espiritual. O sofrimento, o medo, ansiedade, o pânico, a depressão, cujas causas, às vezes, ignoramos e nunca imaginamos que um dia pudéssemos ser atingidos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. As chamas vão se minimizando até o seu término. O que restou, se transforma em cinzas que são lançadas ao sabor do vento.
Imaginem o pobre milho de pipoca, fechado dentro da panela. Lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou. Não vê outra alternativa, senão enfrentar a dura realidade, dentro de sua casca dura, fechado em si mesmo.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparado para ele. O milho de pipoca não imagina aquilo de que ele é capaz. Tal qual o neófito, ao iniciar mais uma viagem iniciática. Pelo poder do fogo, queimando seus vícios e suas imperfeições, atinge a grande transformação. Surge um novo homem. Liberto dos vícios, que aviltam o homem e das paixões ignóbeis, que o desonram. Passa a dar exemplos de tolerância, justiça, respeito à liberdade, exigências primordiais da nossa sublime Instituição.
Aprende que a tolerância é a virtude da Paz, instrumento de singular importância que enobrece a cidadania e fertiliza os elementos da cultura e do respeito. Assim, não se sustentará a paz onde não se vivência a tolerância. Não se sustentará a paz onde não houver respeito entre pessoas, grupos religiosos, ideologias, etnias e culturas nacionais.
Assim, como o milho da pipoca. Após passar pela prova do fogo, ressurge transformada, na flor branca, macia e nutritiva, como nunca havia imaginado. Mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar o seu viver. Não aceitam mudanças, recusam as transformações. Tal qual, aqueles que nossos irmãos reconhecem como apenas um contribuinte, sem deixar os sublimes princípios da ordem penetrar em seus corações. Sabem apenas criticar e dividir. A presunção, a ignorância e o medo de mudanças são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino deles é triste, já que ficarão duros a vida inteira, sem se transformar na saborosa pipoca que ao ser adicionado o sal da vida, adquire um novo sabor, o inigualável sabor da fraternidade.
João Augusto Lopes é procurador jurídico da Federação das Apaes do Estado de Mato Grosso do Sul – Inspirado no texto extraído do livro: “O amor que acende a lua”, de Rubem Alves.