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A falta de professores e o futuro da educação brasileira

Caiubi Kuhn, Professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo, especialista em Gestão Pública (UFMT), mestre em Geociências
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Um dia, enquanto estava em uma aula de campo com meus alunos, uma pessoa me perguntou se eu trabalhava ou se apenas dava aulas. Expliquei à pessoa que a função do professor universitário é um trabalho que envolve atividades de ensino, projetos de pesquisa e ações realizadas junto à comunidade por meio de projetos de extensão. Por trás da pergunta feita de forma inocente pela pessoa, há um cenário cada vez mais crescente de desvalorização dos professores, tanto social quanto econômica, o que pode resultar em consequências catastróficas no futuro, como a falta de interesse dos mais jovens pela carreira docente e a escassez de profissionais para educar os jovens do amanhã.

De acordo com estudos do Instituto Semesp publicados em 2022, em 2040 a educação básica enfrentará um déficit de professores que poderá chegar a 235 mil. Um dos motivos para a falta de atratividade da profissão está na baixa remuneração. Em 2020, de acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), um professor de educação infantil que trabalhava em uma creche recebia em média R$ 2.489, enquanto na pré-escola o valor era de R$ 3.777. Já no ensino fundamental, o salário era de cerca de R$ 3.835, e no ensino médio, R$ 5.418. Esses valores estão bem abaixo da média dos profissionais graduados empregados no Brasil, que era de R$ 6,5 mil.

Embora por motivos diferentes, o problema da falta de professores não é exclusivo do Brasil, também é registrado em países como Alemanha, Polônia, Hungria e muitos outros. Conforme estimativas da UNESCO, o mundo precisará de 69 milhões de professores até 2030. A demanda global por professores pode agravar ainda mais o problema no Brasil.

A desvalorização dos professores e profissionais da educação é observada em todos os níveis. Nas universidades, por exemplo, os valores pagos a professores e técnicos são bem inferiores aos pagos a profissionais de qualificação similar em outros órgãos federais. Essas assimetrias são resultado de diferentes reajustes aplicados pelos governos nas últimas décadas e criam um verdadeiro abismo salarial entre carreiras que exigem qualificação parecidas. 

Para os professores, embora o nível de exigência de formação seja um dos mais elevados entre as carreiras públicas, com a necessidade de mestrado ou doutorado, além da dedicação exclusiva, os salários ainda são inferiores a muitas carreiras públicas em que apenas a graduação é requerida e não há exigência de dedicação exclusiva. 

Mas para onde irão os mestres e doutores se não para as universidades? Em um mundo que valoriza cada vez mais o conhecimento e a informação, em outros países muitos profissionais têm sido absorvidos por centros de pesquisa. Além disso, a docência no exterior também tem atraído algumas das nossas melhores mentes devido a melhores remunerações e condições de trabalho.

No caso dos servidores técnicos, a desvalorização da carreira nas universidades também dificulta a retenção de profissionais, uma vez que muitos outros concursos, em funções similares, oferecem remunerações muito melhores.

A universidade forma pessoas, cria projetos, tecnologias e soluções para a sociedade. No entanto, o ambiente de desvalorização financeira e social afeta a saúde dos servidores, que se tornam cada vez menos motivados, e também terão cada vez mais dificuldades em motivar os estudantes a seguir a carreira de professor ou pesquisador.

Melhorar os salários e as carreiras dos profissionais da educação é uma necessidade para o Brasil. É preciso valorizar aqueles que estudam e se dedicam para formar as mentes dos profissionais do futuro, desde a educação básica até a educação superior. Somente assim daremos um sinal para os jovens de que estudar é sinônimo de reconhecimento e valorização. Caso contrário, no futuro, faltarão mestres para os mais jovens, faltará educação para o país. Faltará tudo!

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