Há dias, logo que publiquei outro artigo com este mesmo título, recebi um email de um leitor fazendo algumas indagações e, indiretamente, provocando-me para escrever um pouco mais sobre este mesmo assunto. A indagação principal do interlocutor era "até que ponto um presidente nos EUA consegue estabelecer uma doutrina, tendo em vista que existem diversas forças se digladiando para ter a primazia das ações políticas tanto no campo interno quanto no externo" e a provocação foi no sentido de aprofundar melhor a discussão, o que pretendo fazer neste artigo e em outros quando a oportunidade se nos apresentar.
Diferente do Brasil e de várias outras "democracias" os EUA tem uma tradição de estabilidade política muito forte. Ao longo de sua história jamais houve um golpe de estado e nem qualquer prática autoritária de governo. Os partidos se revezam no poder, existe um bi-partidarismo que reflete realmente os anseios, interesses e aspirações nacionais. Não existe caciquismo e nem continuísmo político. Por exemplo, uma vez eleito ou reeleito presidente da Republica o mesmo jamais poderá ter algum outro cargo eletivo, como acontece com os ex-presidentes ai no Brasil que não gostam nunca de largar a "boquinha", concorrendo até por Estado onde jamais residiram ou fizeram carreira política como certo ex-presidente que está no poder há mais de seis décadas tendo servido e apoiado praticamente todos os donos do poder, militares ou civis, além de criar uma oligarquia familiar cujo poder é divido em família.
Outro aspecto importante é o fato de o Congresso (Câmara federal e Senado) gozarem de autonomia verdadeira, não se prestando ao papel de capacho do executivo, como em alguns países que se autodenominam democracias. As comissões permanentes das duas casas legislativas têm muito poder, principalmente em questões militares, estratégicas, de política externa e também em todas as áreas de política interna, incluindo a famosa comissão permanente de orçamento que na verdade acaba colocando o chefe do executivo nos eixos.
Alguns Presidentes como Bill Clinton e Ronald Reagan governaram com amplo apoio do Congresso, sendo que seus partidos (Democrata e Republicano) mesmo quando não tinham a maioria direta conseguiam articular-se e formar a maioria necessária para a governabilidade. Obama no inicio de seu governo contava com a maioria democrata nas duas Casas do Congresso, mas nas eleições do meio do mandato o partido democrata perdeu o controle da Câmara Federal e manteve uma pequena maioria no Senado. Isto tem obrigado Obama a negociar muito quando deseja aprovar suas propostas no Congresso.
Assim, além de ter que cortejar o Congresso e outras forcas estabelecidas, como os grandes "lobbies" e o seu próprio partido Obama passou a reforçar as ações diretas junto ao eleitorado e seus aliados externos e desde o início de seu governo e com maior ênfase a partir dos últimos meses, quando anunciou publicamente que vai concorrer a reeleição, passou a formular seu pensamento político e estratégico de forma mais clara. Para identificar o que denominamos de "Doutrina Obama" necessário se torna ler, ouvir e concatenar seus discursos. Até o momento são várias as idéias que aos poucos vão sendo articuladas para dar um sentindo global em suas propostas em termos de política interna, externa e pensamento estratégico global.
Neste trabalho de "garimpagem" intelectual a que nos propusemos, conseguimos resumir o pensamento de Obama em 21 pontos, que julgamos os mais importantes formulados até agora: Suas propostas são:
1) Um mundo sem armas nucleares, fortalecendo o tratado de não proliferação e com rígido controle até que este desejo/sonho seja realizado;
2) Derrotar o terrorismo internacional e suas ações e manifestações em qualquer lugar que se apresentarem;
3) Difundir e estimular a democracia ao redor do mundo e apoiar os movimentos que lutam contra governos ditatoriais e tiranos;
4) Promover a paz com o mundo islâmico, reduzindo o sentimento antiamericano em todas as partes, principalmente nos países de maioria mulçumana;
5) Avançar no controle das mudanças climáticas e do aquecimento global;
6) Acabar com as guerras do Iraque e Afeganistão, mantendo apenas uma pequena forca para ajudar os governos locais a manterem a estabilidade política;
7) Fortalecer a diplomacia e o multilateralismo, apoiando os organismos internacionais como a ONU, seu Conselho de Segurança e agências especializadas e outros de âmbito regional como a OEA e outras mais, sem retirar o apoio aos aliados tradicionais e os tratados de cooperação bi-lateral.
8) Conter os programas nucleares do Iran e da Coréia do Norte;
9) Atuar nos conflitos regionais evitando que os mesmos se generalizem e criem instabilidade em diversos países vizinhos;
10) Combater os regimes ditatoriais e apoiar a defesa dos direitos humanos nesses países e em outros onde os mesmos não sejam respeitados.
No próximo artigo daremos continuidade a este assunto e apresentaremos as demais propostas que integram a Doutrina Obama!
Juacy da Silva é professor universitário, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias
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