O IBGE está divulgando a estimativa da população brasileira a cada minuto. Um trabalho bastante interessante, que vem sendo realizado, segundo informações disponibilizadas em seu site, onde as taxas médias de crescimento populacional mensal foram reduzidas à escala de minutos, o que permitiu a obtenção das estimativas populacionais a cada minuto. O resultado disto tudo é que pode se concluir que nascem no Brasil a cada minuto cinco brasileirinhos que esperam ter direito a participar do banquete que a natureza oferece.
Esta questão de aumento da população e suas conseqüências foram tratadas a cerca de 200 anos por um economista inglês Thomas Robert Malthus, que em comum com o tema, tinha seis irmãos. Por outro lado, na história do pensamento econômico, poucos economistas chegaram a suscitar tantas controvérsias como ele, que a época assegurava que se a população não for contida por freio algum, irá ela dobrando a cada 25 anos, ou crescerá em progressão geométrica enquanto que a produção de alimentos só poderia aumentar, no máximo, em progressão aritmética.
Voltando ao caso brasileiro, e acreditando nos cálculos do IBGE, e num exercício aritmético, concluímos que haveremos de chegar em 31 de dezembro deste ano com mais 2,6 milhões de brasileiros e estaremos então beirando os 188 milhões de habitantes. Um belo e crescente mercado consumidor, porém, se restringirmos nossas preocupações apenas com o aumento do consumo do arroz, feijão e carne bovina, portanto, apenas três itens da cesta básica e, adicionarmos o componente ambiental, veremos que a coisa está se complicando e mesmo não concordando plenamente com Malthus, vejo que é chegada à hora da sociedade se posicionar.
Para alimentar esta multidão que está chegando a cada ano no Brasil, de 2,6 milhões de habitantes, haveremos de prover os estoques de arroz em mais 2,4 milhões de sacas de 60 kg e mais 2,4 milhões de sacas de feijão, também de 60 kg e mais 12,8 milhões de arrobas de bois gordos. Isto se mantido o consumo de 150 gramas diárias de arroz e feijão e 200 gramas diárias de carne bovina.
Aumentar esta produção anual, necessária aos novos brasileiros não é problema algum para o agronegócio, somente o Estado de Mato Grosso, com folga, daria conta deste recado. O problema começa quando se analisa a nossa produtividade média do arroz que segundo a CONAB, gira em torno de 3,5 ton./ha, o que significa que precisaríamos acrescentar mais 41,1 mil hectares para a produção de arroz e ainda, com a produtividade média de 670 kg/ha do feijão, precisaríamos de mais 215,4 mil hectares e para colocar mais 852,6 mil bois gordos no mercado, mais 610 mil hectares de pastagens e, considerando ainda, que não comemos apenas arroz feijão e carne bovina, necessitaríamos então de aumentar em torno de 1,0 milhão de hectares na nossa agropecuária a cada ano.
A abertura de novas áreas para a agropecuária, na escala que será exigida, como sabemos, somente é possível em estados da Amazônia Legal, coincidentemente, região em que a legislação ambiental restringe o pleno desenvolvimento da agropecuária. Assim, considerando o estágio de desenvolvimento de Mato Grosso, sua localização e, por ser o maior produtor de alimentos da cesta básica dos estados da chamada Amazônia Legal é aqui que esta produção se verificará e será por expansão de áreas, em função de que já utilizamos de toda a tecnologia existente para a agricultura e pecuária, o que permite sermos um Estado campeão em produtividade.
Esta é a equação a ser resolvida. Por um lado, segmentos da sociedade civil exigem a qualquer custo a preservação do meio ambiente, por outro, a igreja, especialmente a católica, historicamente se opõe a idéia do controle da natalidade, todos viram o imbróglio do Vaticano com a cantora Daniela Mercury, porém, no ritmo de crescimento populacional que estamos verificando, estaremos daqui a dez anos ultrapassando a casa dos 212,0 milhões de habitantes.
Destarte, é importante registrar que qualidade de vida não se mede apenas pelo consumo de comida e bebida, como ficarão outras questões como esgoto, lixo, água tratada, habitação, educação, saúde, transporte e energia?
Amado de Oliveira Filho é economista em Cuiabá e escreve neste espaço às quartas feiras.