A célebre pergunta: trabalhamos para viver ou vivemos para trabalhar? A perspectiva de um feriado prolongado permite nos fazer uma reflexão sobre como as pessoas interpretam uma folga do trabalho. Tudo começa já na quinta-feira, com os primeiros telefonemas. No dia seguinte, logo cedo, você confere as condições do tempo. Será que vai chover? Vai dar sol? É dia de uma roupa menos formal no trabalho, afinal é sexta-feira, o clima é diferente. Todas as semanas é a mesma coisa: já na segunda-feira começa a contagem regressiva, e os dias de trabalho se transformam apenas no tempo que falta para o descanso. Witold Rybczynski em seu fantástico livro Esperando o fim de semana faz esta análise e aponta que passamos a semana inteira esperando pelo fim de semana, na expectativa de algumas horas de lazer.
O Lazer é um fenômeno da sociedade moderna, urbano-industrial, resultado de uma incessante luta de interesses opostos. As horas de descanso, tempo de folga que passaram a ser denominadas de lazer derivam, portanto, de reivindicações por diminuição da carga horária trabalhada.
O lazer na antiguidade era um direito de poucos. Na sociedade medieval estava ligado com rituais e celebrações públicas. Em princípios do século XIX, na Inglaterra, a ética protestante enobrecia o trabalho e relegava o lazer a condição de um pouco de tempo livre, as atividades realizadas neste período teriam certo valor se fossem utilizadas para reintegrar os homens ao trabalho. Desta forma, somente a partir do século XX que o lazer afirmou-se como uma possibilidade atraente, e também como um valor.
Como o sistema econômico capitalista tende a transformar tudo em mercadoria. Os direitos do cidadão conquistados arduamente, foram transformados em direitos de lucratividade, e, é neste contexto que surge às indústrias do lazer. As indústrias do lazer pregam um lazer idealizado, mas não o lazer no ideal grego, mas, com atividades baseadas em mudanças de lugar, de estilo e de ritmo com viagens ou atividades fictícias.
O lazer reduzido a turismo funciona como fuga do cotidiano ou evasão para um mundo diferente do enfrentado todos os dias, uma forma de compensação do trabalho. São rupturas, que trazem uma forte carga emocional e ás vezes até obrigatórias, de que devem fazer esta ou aquela viagem, ir a determinado lugar porque os amigos ou as amigas foram.
O direito à natureza ou pseudodireito levam cada vez mais as pessoas a saírem da cidade em busca da natureza, desejosos de se aproveitar dela. Esta busca pelo lazer conduz a contradição da própria idéia de lazer, ou seja, “prazer e liberação. Basta analisar o movimento das estradas nos feriados prolongados como, por exemplo, de moradores da metrópole paulista em direção ao litoral de São Paulo. O fluxo de saída produz um movimento de oposição de retirada da cidade contrapondo com a idéia do lazer como fenômeno urbano.
O lazer ao ser concebido como lazer mercadoria, de consumir diversas atividades modifica o seu princípio maior que é ser livre. O sábado e o domingo, e os feriados prolongados, dias considerados nossos, onde somos livres para não fazer nada, transformou-se na obrigação de fazer algo.
A nova forma de ver o lazer não pode estar condicionada meramente aos interesses do capital. Este “lazer mercadoria não contribui para as mudanças de atitudes do individuo ou na melhoria da sua visão de mundo, mas produz um sujeito alheio as questões sociais, econômicas, culturais e ambientais.
Zenilda Lopes Ribeiro é geógrafa e mestre em geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso, professora da rede estadual de ensino de Mato Grosso em Sorriso.