O Vaticano anunciou hoje que não falará com a mídia até o final do conclave –reunião de cardeais que escolherá o próximo sumo pontífice–, que tem início no próximo dia 18.
Segundo o porta-voz do Vaticano, Joaquin Navarro-Valls, os religiosos tomaram essa decisão de maneira unânime neste sábado. “Eles começaram um período de silêncio e orações”, disse Navarro-Valls.
“Os cardeais não darão entrevistas ou participarão de encontros com a mídia. Por isso, pedimos para que os jornalistas não solicitem entrevistas”, continuou. “Esse silêncio pode ser interpretado como desprezo com a imprensa, mas a escolha é uma decisão de muita responsabilidade.”
Representantes da igreja disseram, na quinta-feira, que muitos cardeais reclamaram sobre as especulações da mídia envolvendo um sucessor para o papa João Paulo 2º. Essas informações, afirmam, poderiam influenciar na escolha do próximo sumo pontífice.
Os cardeais ficam proibidos de ler qualquer tipo de notícia durante o período do conclave. Um dos 116 cardeais eleitores (o 117º, o filipino Jaime Sin, não irá por estar doente) afirmou à Folha que o encontro não terminará antes de três dias. Muito mais provavelmente, levará cinco dias, disse.
Segundo a imprensa italiana, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, um dos favoritos para suceder João Paulo 2º, afirmou que entrevistas não fazem parte da preparação adequada para a escolha do próximo papa.
A Capela Sistina, onde acontecerá o conclave, foi fechada ontem e só será reaberta quando o novo papa for eleito.
Juramento
Todos os funcionários do Vaticano que terão alguma função dentro do conclave são obrigados a fazer um juramento com a mão sobre um livro dos Evangelhos. Confira na íntegra o juramento:
“Eu, (nome do funcionário), prometo e juro guardar segredo absoluto com
qualquer pessoa que não faça parte do colégio dos cardeais eleitores, e isto em perpétuo, a menos que eu receba uma especial autorização dada
expressamente pelo novo pontífice eleito ou por seus sucessores acerca de tudo o que se refira direta ou indiretamente à votação para eleição do Sumo Pontífice.
Prometo igualmente e juro me abster de fazer uso de qualquer registro por escrito, por áudio ou vídeo de durante o período da eleição, que ocorre na Cidade do Vaticano; e, particularmente, tudo o que direta ou indiretamente, em qualquer outro modo, diga respeito à eleição.
Este juramento declaro tê-lo feito consciente de que uma infração do mesmo significará a mim todas as sanções espirituais e canônicas que o futuro Sumo Pontífice decidir.
Assim, Deus me ajude e este Santo Evangelho, que toco com minha mão.”
Conclave
O conclave mais longo da história ocorreu em 1268, logo após a morte do papa Clemente 4º. Esse conclave durou dois anos e nove meses e terminou com a escolha de Gregório 10º.
O mais curto de todos foi o do papa Paulo 6º, que durou menos de 48 horas.
No conclave que escolheu Gregório 10º, os cardeais não chegavam a um acordo sobre o nome do futuro papa. Segundo os historiadores, o povo destelhou o palácio em que ocorria o conclave para pressionar os cardeais a escolherem o futuro papa. Era inverno e os cardeais estavam trancafiados e só recebiam pão e água como alimento.
Para evitar a repetição desse episódio, Gregório 10º editou a constituição Ubi periculum (1274) com normas rígidas para a realização do conclave dos futuros papas.
Desde fevereiro de 1831, quando o conclave escolheu Gregório 16, a escolha de um papa não demora mais de 20 dias a partir da data da morte de seu antecessor.