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Várzea Grande: unidade especial promove o resgate da autoestima e reforça o ensino

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Assessoria

Sair da zona de conforto exige mais que vontade, requer persistência, retidão e responsabilidade consigo mesmo. A decisão de mudar geralmente é tomada por adultos em dificuldades, mas nem sempre é assim! Adolescentes estão fazendo a diferença e valorizando as oportunidades, como é o caso dos estudantes Rodrigo Souza, 16, e Ícaro Bispo, 15 que estão frequentando as atividades do Caderno II, driblando todas as adversidades que surgem pelo caminho. Não importa o meio, de carro, de bicicleta, de ônibus ou a pé, todos os dias eles acordam cedo, madrugam com um objetivo: aprender cada vez mais.

Para os dois jovens preguiça e comodismo não são sinônimos de uma vida mais carente, e, muito menos justificativa para não buscar um futuro melhor. Toda essa perseverança que exala dos poros desses meninos revelou o tímido Ícaro como destaque no xadrez, dono de um segundo lugar em uma competição recente, e o introvertido Rodrigo, um talento na dança.

Os dois estudantes integram um grupo de 150 meninos e meninas entre 13 e 17 anos que participam das atividades ofertadas pelo Projeto Social ‘Caderno II’, um braço da prefeitura municipal de Várzea Grande, que por meio da secretaria de Assistência Social, foca no resgate da autoestima de estudantes que estão ociosos no contraturno escolar. Mais que ofertar atividades que preencham tempo e atenção dos participantes, as atividades levam conhecimento, reforço escolar e potencializam talentos. “Para, além disso, os facilitadores – que aqui fazem o papel de professores – levam para as salas mais que ensino, levam acolhimento, aconselhamento, carinho e atenção, coisas que muitos não têm em casa por vários motivos. Aqui no Caderno II encontram apoio para as dificuldades que circundam essa fase da vida deles”, explica a coordenadora do espaço, Cláudia Regina da Silva Barros.

Chama à atenção nos meninos Rodrigo e Ícaro a determinação em escrever suas próprias histórias. A facilitadora de acompanhamento escolar, Kelcilene Brites e a assistente administrativa, Damiana Barros, destacam que diferente de uma escola, onde há obrigação em se manter a frequência escolar, no Caderno II os jovens são livres para participar. “Por isso a dedicação desses meninos tem de ser valorizada e estimulada. Eles estudam à tarde e poderiam, muito bem, estar em casa, à toa, na rua e sem qualquer atividade e responsabilidade. Mas, uma vez aqui, conhecendo o que temos a ofertar, decidiram por si mesmos frequentar o Caderno II de segunda a sexta-feira, mesmo que para estar aqui tenham que fazer mais esforços que os outros colegas. Acredito que eles são exemplos de obstinação na busca por uma vida melhor”, explicam.

Questionados sobre o porquê de virem todas as manhãs ao Caderno II, Rodrigo é certeiro: “Quero ser alguém na vida fazendo o que gosto. Vou fazer uma faculdade de Artes e ensinar outras pessoas. Hoje sei da importância em ter um diploma”. Mais tímido – mas bastante destravado já – Ícaro diz que estar ali todos os dias “o ajuda a enxergar um futuro bom para mim. Quero ser bombeiro”. Ele foi um dos primeiros estudantes a participar do Projeto, está desde a inauguração, em agosto do ano passado. Já Rodrigo, indicado por uma amiga que esteve no Caderno II, começou as atividades nesse ano.

Os dois jovens estudam à tarde. Ícaro disse que não ficava na rua, mas estava em casa sem atribuição. Mesmo acordando cedo, não aproveitava o tempo livre para estudar. Já Rodrigo lembra que acordava quase meio dia e ia para escola. Ambos afirmam que o Projeto tem feito diferença positiva no rendimento escolar e no relacionamento familiar.

“Independentemente da oficina que escolham, todos frequentam as de informática e de acompanhamento escolar”, frisa Kelcilene.

Para além da potencialização e descoberta de talentos, como é o Ícaro em relação ao xadrez – uma revelação – o Caderno II se tornou um canal importante que está fazendo a diferença na rotina desses jovens. “Se estabelecem laços de confiança entre os participantes, facilitadores e funcionários. Por meio dessa abertura e dessa relação de confiança ajudamos em conflitos domésticos, na autodescoberta e até mesmo ajudamos jovens em depressão, que se automutilam e que pensam em tirar a própria vida. Tudo isso é possível por conta do apoio que recebem de uma equipe comprometida e que quer fazer a diferença nessas vidas”, explica Kelcilene.

O impacto na vida dos estudantes que frequentam o Espaço pode ser mensurado pela demanda. “Estamos caminhando para o primeiro ano de existência e já passamos de 50 por período para 75 vagas por período e precisamos de mais. Esses participantes representam 72 bairros da cidade”, completa Damiana.

Os participantes mais vulneráveis socialmente são acolhidos e recebem doações de roupas e calçados. “Muitas vezes fazemos cota para pagar a passagem de volta de quem veio apenas com a passagem da vinda”, completa.

Os participantes, como explicam as funcionárias do Espaço, expressam suas aflições, medos, angústias e dúvidas por meio de desenhos, relatos e até mesmo no comportamento. “Muitos chegam retraídos, vêm a contragosto, mas aos poucos se soltam e passam a amar o espaço. O Caderno II é um projeto social bastante acolhedor e importantíssimo no apoio aos jovens que estão ociosos e em situação de vulnerabilidade, seja ela econômica e ou social”, pontua a coordenadora Cláudia.

Em quase dez meses de funcionamento, o Caderno II acolheu jovens com necessidades especiais como epiléticos, com dislexia, bipolares, hiperativos, com déficit de aprendizagem, autistas e depressivos. “O gratificante em tudo isso é ver como esses participantes especiais se adaptam e como são bem acolhidos e até cuidados pelos outros colegas. No dia a dia, eles aprendem a conviver com as diferenças e ajudam a estreitar as relações com a aceitação e solidariedade”, aponta Kelcilene.

Os participantes frequentam o Caderno II no contra turno escolar. Quem está matriculado no período vespertino, chega às 7h e sai às 11h. Quem estuda pela manhã entra às 13h e sai às 16h50. Todos, dentro do seu turno no espaço, recebem café da manhã e almoço, ou ainda, almoço e lanche da tarde. Há espaço para banhos, onde meninas e meninos, em separado, são acompanhados pelos facilitadores. A roupa das atividades físicas é lavada ali mesmo no espaço, que tem um funcionário encarregado apenas para isso.

Os jovens dão entrada no Caderno II por meio de indicação pelo CRAS, ou mesmo por iniciativa de pais e dos próprios jovens. “Por meio das visitas que fazem parte da rotina dos CRAS, são identificadas jovens nessa faixa etária que estão ociosos, e ou em situações prioritárias, seja por trabalho ou qualquer tipo de vulnerabilidade”, explica Damiana.

As oficinas se dividem em atividades de foco e de prática esportiva. Foco: dança, teatro, música (flauta e violão) e moda e customização. Esportivas: xadrez, vôlei e futsal. “Além dessas opções, todos participam das oficinas de informática e de acompanhamento escolar. Todas as sextas-feiras, há palestras motivacionais aos participantes, com profissionais de diversas áreas para contar do dia a dia da profissão ou mesmo temas que provocam a reflexão e a tomada de decisão dos jovens.

O Caderno II está localizado na Avenida Castelo Branco, próximo ao Parque Ecológico Tanque do Fancho e do Corpo de Bombeiros.

 

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