O espírito de guerreira e o sonho de trazer melhorias para seu povo garantiram à Creuza Assoripa Umutina o respeito de todos indígenas de sua etnia. Admiração conquistada após vencer os Jogos Indígenas- categoria arco e flecha. Creuza sagrou-se a melhor atiradora – acertando três vezes consecutivas o mesmo alvo. A fama refletiu-se em votos nas urnas de um processo eleitoral que a elegeu em 2004, primeira mulher a ocupar o mais alto posto da aldeia, até então só ocupado por homens: o de cacique.
Ao substituir o ex-cacique Valdomiro Umutina, a vida na aldeia mudou. Creuza garantiu à única escola, 20 computadores ligados à internet. Uma parceria entre o governo estadual de Mato Grosso e Prefeitura de Barra do Bugres, assegurou os ensinos de nível fundamental e médio. Abraçou o sistema de cotas para indígenas da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat). Cinco estudantes estão concluindo curso de Letras e 10 indígenas formaram-se professores e retornaram à aldeia, onde ministram aulas nos idiomas Português e Pituquá.
Na área da saúde a aldeia Umutina está melhor atendida. Uma parceria com a Funasa garantiu atendimento médico in loco. Entre os serviços disponibilizados aos indígenas estão clínica geral, pediatria e odontologia. “Perdi meu dente da frente por causa de uma cárie. Agora estou tranqüila porque nossa cacique conseguiu levar até a aldeia o serviço de implante dentário”, revela satisfeita a estudante, Edilene Utina, 17, zagueira do futebol vice-campeã dos Jogos dos Povos Indígenas de 2007.
A cacique também levou energia elétrica e agora, nas ocas, existe televisão. Mas implantar uma administração moderna e levar benefícios para a aldeia, não foi fácil. Para obter o respeito dos homens e dar bom exemplo à tribo, Creuza se separou do marido. “Tive que cortar na própria carne e pedir a separação, porque meu marido bebia muito e dava péssimo exemplo à aldeia”, lamenta. “Sou a maior autoridade na aldeia. Como posso cobrar dos jovens que não se envolvam com o álcool se meu marido não dava o exemplo?”, questiona.
Creuza Umutina sabe ler e escrever. Mesmo tendo parado os estudos na 5ª serie tem convicção de que a educação e o esporte dignificam o ser humano. “Moral e sabedoria aprendemos na escola, mas a saúde e o respeito conquistamos principalmente através do esporte. Se eu não fosse a melhor atiradora da aldeia, não seria respeitada pelos homens, e muito menos pelas mulheres, uma vez que o regime entre os povos indígenas é patriarcal e machista. Hoje estou feliz e casada com o meu trabalho”, revela.