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Suicídios aumentam em MT e será tratado como problema de saúde

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A saudade da filha deixa muda Maria Neli Figueiredo, 51 anos. Com voz embargada, a moradora de Santa Maria retoma a conversa alguns segundos depois. As roupas da jovem de 20 anos, Neli doou para a igreja. Ainda não sabe o que fazer com a cama dela. De lembrança guardou fotos e os bichos de pelúcia. Faz seis meses que Silvana deu fim à própria vida. “Era uma menina brincalhona. Às vezes, ficava para baixo, mais estressada por conta do tanto que trabalhava e ninguém reconhecia”, lamenta. O suicídio no Brasil está em níveis comparáveis aos de países que têm índices elevados e deixa, em média, cinco a seis pessoas próximas de quem o cometeu precisando de atenção médica. O ato extremo preocupa os especialistas.

De acordo com o Ministério da Saúde, o número no DF sobe se feita análise isolada da mortalidade feminina por suicídios. No ranking das capitais, Brasília apresenta um índice de 2,4 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres. Junto com Campo Grande (MS), a capital federal ocupa o 5º lugar na lista de ocorrências entre as capitais brasileiras. Só perde para Teresina (4,2), Cuiabá (3,8), Curitiba (3,3), Rio Branco e Goiânia (2,8).

O Ministério da Saúde lançou ontem o primeiro projeto-piloto da Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio – Amigos da Vida. O projeto ComViver busca dar atenção especializada aos familiares e amigos de pessoas suicidas, com o objetivo de reduzir o impacto dos danos do suicídio nessa população. “No mundo ocidental, criou-se o mito da não abordagem do assunto”, comenta a psicóloga Blanca Werlang, diretora da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

O Brasil será o primeiro país da América Latina a descortinar o assunto, em geral tratado de forma velada pela sociedade, cientistas e até mesmo pelos profissionais da saúde. Pela primeira vez, o Ministério da Saúde decidiu tratar a questão como um problema de saúde pública. O governo planeja ações voltadas para a prevenção e a necessidade de trabalho com sobreviventes e pessoas próximas em todo o país.

O problema é velho e as discussões estão no começo, apesar da Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendar aos países membros que dêem atenção à causa desde os anos 90. Em 1996, quando foram divulgadas as taxas de suicídio internacionais, os números chegaram à ordem de 25 mortes por 100 mil habitantes nos países do Leste Europeu e Japão. Na Espanha, Itália, Irlanda, Egito e Holanda, os indicadores também eram expressivos: cerca de 10 mortes por 100 mil habitantes.

A primeira avaliação comparativa de suicídio no Brasil levou uma década para ser concluída. O estudo foi realizado pelo Ministério da Saúde abrangendo o período entre 1994 e 2004. Os dados surpreenderam os especialistas reunidos em Porto Alegre (RS), no 1º Seminário Nacional de Prevenção do Suicídio. “O Rio Grande do Sul registra uma alta taxa de morte por suicídio”, afirma o psiquiatra Carlos Felipe Almeida d’Oliveira, da Secretaria de Atenção à Saúde do ministério.

A intenção é iniciar uma série de discussões sobre o tema no país e sensibilizar a sociedade e os legisladores para a questão até então considerada invisível. “Ninguém comenta e os dados ficaram escondidos por muito tempo”, explica Almeida. O problema atinge todas as etnias e independe do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

O estado do Rio Grande do Sul apresentou, em 2004, a maior taxa de mortalidade masculina por suicídios — 16,6 casos para cada grupo de 100 mil homens. O maior índice feminino ocorreu no Mato Grosso do Sul. No mesmo período, foram registradas 4,2 mortes por 100 mil mulheres. Entre as capitais, Teresina teve a mesma incidência feminina do Mato Grosso do Sul. Entre os homens, Macapá (AP) foi o destaque das capitais, com 13,6 casos por 100 mil homens.

Com informações do Correio Web

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