sexta-feira, 29/março/2024
PUBLICIDADE

Saltos Dardanelos e Andorinhas vivem últimos momentos de beleza natural em MT

PUBLICIDADE

Depois de três anos de muita polêmica e liminares na Justiça, a Usina Hidrelétrica de Dardanelos está pronta para sair do papel. No município de Aripuanã, extremo noroeste de Mato Grosso técnicos da construtora Odebrecht e da empresa Águas da Pedra (formada pelo consórcio Neoenergia, Chesf e Eletronorte), responsável pelo empreendimento, já estão devidamente acomodados no que um dia foi o melhor hotel da cidade para acompanhar as obras. Não podiam escolher lugar mais privilegiado. É um dos únicos pontos de onde é possível apreciar ao mesmo tempo os saltos Dardanelos e Andorinhas, as incríveis cachoeiras que estiveram no cerne das principais críticas à hidrelétrica.

A construção da usina, que terá uma potência instalada de 261 MW, mas assegurará em média 154 MW de energia ao Sistema Interligado Nacional (SIN), podia ter começado no mês de maio, quando a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) concedeu a tão esperada licença de instalação ao empreendimento. Mas por um pedido da própria secretaria, a Águas da Pedra preferiu esperar a licença ambiental prévia das linhas de transmissão para dar início às obras, com previsão de conclusão para 2011.

“É uma questão de dias”, diz Leonardo Borgatti, diretor de contrato da Odebrecht. Depois de três tranqüilas audiências públicas realizadas nas primeiras semanas de agosto, a viabilidade ambiental das linhas quase não teve contestações. Também pudera. Apenas 188 quilômetros entre Aripuanã e Juína foram motivo do estudo de impacto ambiental, que não identificou interferências relevantes por onde passarão 412 torres de alta tensão, pois a área já foi suficientemente desfigurada por 25 anos de exploração predatória de madeira e pecuária. O trajeto, os impactos e os beneficiários dos linhões até os pontos onde há efetivamente ligação com o SIN ficaram fora do debate.

Os empreendedores garantem que as obras da usina vão impactar o menos possível o ambiente e já tranqüilizaram a população, ansiosa pela promessa de geração de empregos, que o município só vai sair ganhando com os investimentos de infra-estrutura que as economias madeireira e pecuária jamais deixaram na região. Além de pressões para o asfaltamento da pista do aeroporto da cidade, os empreendedores se comprometeram a urbanizar a área do balneário Oásis, um dos pontos usados pela população para se banhar em piscinas naturais formadas pelo rio Aripuanã, numa área à montante das famosas quedas. “Vamos melhorar as piscinas, fazer trilhas e passarelas para observação de aves”, avisou José Piccolli, diretor presidente da Águas da Pedra.

O temor de que a hidrelétrica vai retirar a água das cachoeiras e fazê-las secar, como em diversos momentos do licenciamento ambiental foi levantado, é contestado com veemência pelos construtores. Eles admitem, no entanto, que o desvio de uma porção d’água para o funcionamento da usina é a principal interferência da obra no rio Aripuanã no trecho das cachoeiras. As cinco turbinas verticais que liberaram o empreendimento de precisar de barragem ou reservatório têm capacidade de trabalhar com uma vazão máxima de 306 m3/s de água. Mas Piccolli diz que na média a usina vai aproveitar bem menos do que isso. “Será garantida vazão permanente aos saltos Andorinhas e Dardanelos”, assegura.

De acordo com levantamentos citados no Relatório de Impacto Ambiental (Rima) de Dardanelos, a vazão máxima do rio Aripuanã já registrada fica na casa dos 1.500 m3/s e a mínima é de 18m3/s. E por causa de uma determinação da Agência Nacional de Águas (ANA), o empreendimento será obrigado a permitir uma vazão remanescente às cachoeiras de no mínimo 21 m3/s. Para cumpri-la, então, a usina vai simplesmente fechar as portas três ou quatro meses por ano, na época da seca.

Devido à necessidade de interromper o fornecimento de energia, durante a fase de licenciamento o projeto foi duramente questionado quanto à sua viabilidade econômica. “O empreendimento é inviável em relação à ictiofauna, e a alterações na beleza cênica, além de ter baixa eficiência econômica”, diz o professor Dorival Gonçalves Junior, especialista em fontes alternativas de energia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Piccolli responde com argumento a la Dilma Rousseff. “A energia gerada por Dardanelos é suficiente para garantir o abastecimento de quatro milhões de pessoas e vai ser escoada para o resto do país”, diz. De acordo com Dorival, essa energia não justifica os impactos da obra porque quando ela for transmitida, outras partes do país já estarão abastecidas. “A geração de Dardanelos acontece exatamente na época das águas, quando as hidrelétricas de Mato Grosso e as do Sudeste estão gerando o máximo”, informa o professor.

COMPARTILHE:

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias
Relacionadas

PUBLICIDADE