Dos 31.475 partos realizados em Mato Grosso, no último ano, 8.523 foram de meninas na faixa etária de 10 a 19 anos, o que representa 27% do total. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), cerca de 84% das gestações entre adolescentes no Brasil não foram planejadas. Integrante da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) pontua inúmeras consequências negativas para meninas que se tornam mães ainda adolescentes. Entre elas, o aumento da mortalidade materna e a difícil reintegração destas à sociedade.
Conforme o Sistema de Informações Hospitalares Datasus, no Brasil, em 2015 foram realizados 2,3 milhões de partos e destes 474 mil foram em meninas com idade entre 10 e 19 anos, representando um percentual de 20%. Um comparativo de todas as unidades federativas do país, aponta que apenas o estado de Santa Catarina ficou abaixo da média nacional nesse quesito. Por sua vez, Mato Grosso ocupa a 9ª colocação no ranking, tendo 27% dos partos realizados em meninas com a mesma faixa etária. Com 29,9%, Pará foi o estado com maior índice.
Doutora em Medicina Reprodutiva e Ginecologia Endócrina e membro da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Febrasgo, Marta Finotti apresentou os dados durante o Workshop de Saúde Feminina, realizado pela Bayer, em São Paulo. Segundo ela, a faixa etária entre 15 e 19 anos é responsável por 11% de todos os nascimentos no mundo, sendo que 95% destes ocorrem em países de baixa e média renda. “A Organização Mundial da Saúde aponta que metade de todos os partos durante a adolescência no mundo ocorre em apenas sete países, sendo o Brasil um deles. O que é uma situação extremamente preocupante”.
Finotti elenca alguns fatores de riscos para as adolescentes que engravidam sem um planejamento familiar. Estes tipos de casos são registrados, em sua maioria, em locais com maior desigualdade social e econômica. “A menina inicia precocemente sua vida sexual, estando, consequentemente, exposta às doenças sexualmente transmissíveis. E o pior é que elas não têm acesso a serviços de saúde específicos, pois nossa saúde pública ainda não está preparada para dar assistência a mães, que na verdade ainda são apenas crianças”.
A doutora em Medicina Reprodutiva e Ginecologia Endócrina ainda pontua que, geralmente, as mães destas jovens também as tiveram muito novas e não buscaram orientá-las quanto ao uso de métodos contraceptivos.