A promotora Lindinalva Rodrigues foi uma das vítimas de mordidas de piranhas no Lago do Manso, região de Chapada dos Guimarães (67 quilômetros de Cuiabá), neste final semana. Pelos relatos de frequentadores do balneário é possível constatar que ela não é a única vítima, pois existem relatos de banhistas que dizem ter sido mordidos em outras ocasiões. Apesar disso, o biólogo Francisco de Arruda Machado, especialista no comportamento de peixes, afirma que não há motivos para pânico, pois os fatores que podem motivar os ataques são período de reprodução ou local de alimentação.
De acordo com a promotora, ela estava em um passeio com a família quando entrou em um local de água limpa, com areia branca no fundo e foi mordida. Um único peixe e somente uma mordida, mas levou muito boa parte de um de meus dedos. Perdi muito sangue até chegar ao hospital, mas tirando a dor e o desconforto comigo está tudo bem”, publicou ela em seu perfil no Facebook, principalmente para alertar os frequentadores e banhistas.
Lindinalva relatou que o local onde ela estava tinham várias crianças brincando na água, inclusive bebês. “Imaginem se fosse com um deles. Meu alerta é para que tenham Cuidado! Fiquei sabendo que é tempo de desova e piranhas estão atacando vários banhistas no Manso”, postou. Em seguida, diversos internautas também comentaram a publicação relatando outros casos de mordidas de piranha no lago, que aconteceram com eles ou com amigos e familiares.
De acordo com o biólogo, que analisou a imagem da mordida, as características apontam que a promotora foi mordida por uma piranha da espécie Serrasalmus maculatus, popularmente conhecida como “piranha do rabo preto”. O animal habita rios de água branca e alguns riachos e lagos. Machado, que já estudou o comportamento das piranhas por mais de 10 anos e tem livros e teses publicados sobre o assunto, destaca que a espécie é natural da região, Bacia do Paraguai e deve ter se proliferado com a bacia do Manso.
“Esse bicho já existia, provavelmente eram poucos indivíduos no local, mas com a criação de um grande lago propicia que ele se reproduza. Ao ficar restrito, ocupa esses espaços com muita rapidez”, explica o biólogo ao comentar que os casos de mordidas em banhistas ocorrem devido ao período de reprodução, já que a piranha faz o ninho na areia e fica protegendo contra predadores. “Fazem o ninho na areia e protegem, se a pessoa vem elas mordem, é um mecanismo de defesa.
Outra possiblidade seria o fato de ser um local onde os frequentadores alimentam os peixes. Machado relata que a piranha se alimenta de nadadeiras de outros peixes. “Ali tem restaurante e o povo joga comida causando aglomeração de outros peixes que ali se alimentam. Isso atrai as piranhas para comer as nadadeiras dos outros peixes”. Ele justifica ainda que um pé de uma pessoa se deslocando no mergulho se assemelha a uma presa fugindo e poderia haver o ataque. Ele destaca que casos como esse também já foram registrados na Lagoa Trevisan, em Várzea Grande e em Cáceres.
Mito – o especialista também esclareceu que não há risco de um ataque de várias piranhas contra banhistas na região. Segundo ele, não existem registros de nenhuma pessoa que tenha sido morta num ataque de piranhas. O que ocorre, explica o biólogo, é que elas se alimentam do corpo depois que a pessoa morre afogada ou por algum trauma. Os “ataques mortais” narrados em filmes não acontecem na vida real. “É uma bobagem, aliás, nem é ficção, é uma inficção”.