Três carceireiros reféns por mais de 70 horas, liberados sem ferimentos, e um preso cruelmente executado. Assim terminou, neste domingo, a primeira rebelião no presídio de Sinop, que entrou em funcionamento mês passado. Com um cadeado na boca e mais de 30 golpes de chuchos por todo o corpo foi assassinado, ontem de madrugada, o detento Antonio Farias, o Fofão, 35 anos. Fofão esteve no grupo dos presos rebelados, desde quinta-feira no início da tarde, no raio laranja. Uma fonte de Só Notícias, que esteve no presídio durante as mais de 70 horas de rebelião, informou que o preso foi executado ontem de madrugada. “Ele gritava muito e pedia por socorro. Como a energia daquela ala do presídio tinha sido cortada, não era possível ver com auxílio das lanternas se havia alguém machucado. Os presos rebelados estavam em uma cela e o limite de acesso era o portão do corredor”, descreve a fonte. “Só ao amanhecer é que eles jogaram o corpo no corredor e que foi possível constatar que não era de um refém”, acrescentou.
O assassinato de Antonio Farias ainda não foi esclarecido e a polícia ainda não informou se já identificou os presos que participaram da execução. Pode ser disputa de poder interna para definir quem é líder, desavença na condução das negociações do grupo rebelado e a comissão de negociação ou vingança – que seria uma das hipóteses mais fortes pelo fato de terem colocado um cadeado (que estava nas grades das celas que acabaram sendo derrubadas) na boca de Fofão. Eles perfuraram os lábios na parte superior e inferior e o cadeado foi fechado. De forma cruel e impiedosa, a sentença foi fechar a boca da vítima. Havia mais de 30 perfurações – da cabeça aos pés- feitas por chuchos (armas artesanais feitas com pedaços de ferro pontiagudos). Ele tinha sido transferido do Carumbé, em Cuiabá, em janeiro. Estava preso por homicídio e tráfico.
O corpo de Fofão é velado na capela mortuária em Sinop e deve ser sepultado nesta segunda-feira. Seus pais e demais familiares residem na cidade.
Os carceireiros Altair Oliveira, Antonio Carlos Santos e Alexandre Jardim não foram feridos. Depois da rebelião, foram medicados e receberam auxílio dos bombeiros no próprio presídio. Eles também viram alguns familiares que passaram horas, do lado de fora do presídio, aguardando informações. “Fiquei contente com o trabalho da polícia. Abracei meu filho e disse que estou muito feliz por ele estar bem”, afirmou, emocionado, Daniel Jardim, pai do carceireiro Alexandre.
Uma sindicância pode ser aberta para apontar se houve falha de procedimento dos carceireiros no momento em que serviam a comida e foram dominados pelos detentos.
Quando iniciaram a rebelião, os presos fizeram uma lista com mais de 20 reivindicações. Duas foram atendidas ainda na sexta-feira: visitas quinzenais da comissão de direitos humanos da OAB e exames periódicos de corpo de delito. O impasse, desde sexta-feira à noite, estava nas transferências de presos e visitas íntimas nas celas. Estas duas reivindicações não foram atendidas bem como pedidos para entrar televisores, ventiladores nas celas, não usar uniformes, dentre outras.
A comissão de negociacão, formada pelo Batalhão Especial de Operaçõ Especiais, Comando Tático de Alto Risco da PM Sinop, OAB, Ministério Público, Polícia Civil, Bombeiros e Conselho de Segurança, venceu o grupo rebelado no cansaço. Eles já estavam sem comida e água desde sábado, no início da tarde.
Logo após a rebelião terminar, começou a ser feita uma limpeza geral no raio laranja. Os presos destruíram grades das celas e parte das paredes. Os presos foram colocados em outra ala e passou a ser feita uma limpeza geral. Hoje começam a ser soldadas novamente as grades nas celas.