A Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada pelo Ministério da Saúde apontou que 23% dos homens cuiabanos admitiram que bebem e depois dirigem. Este índice cai para 5% entre as mulheres e deixa a capital com a média de 13,5%. Os dados fazem parte. No conjunto das 27 unidades federativas do Brasil, 6,7% da população adulta admitiram conduzir veículo após consumo de bebida alcoólica. Cuiabá apresenta o dobro da somatória das cidades reunidas.
No país a maior prevalência foi observada entre os adultos de 25 a 34 anos (10,8%) e com maior escolaridade, chegando a 11,2% entre aqueles com 12 ou mais anos de estudo. A capital com menor frequência desse comportamento foi Recife (2,9%) e a maior foi Palmas (16,1%). Delegado titular da Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito (Deletran), Christian Cabral afirma que a análise nas operações da Deletran apontam que em média 20% a 30% dos condutores parados estão sob efeito de álcool. “Os números são estarrecedores pois são quase 21 anos de vigência do Código de Trânsito Brasileiro. E ao longo desses 21 anos as penas vieram sendo paulatinamente agravadas e as campanhas de educação e educação vem sendo intensificadas a cada ano. Mesmo assim as pessoas continuam vivendo à margem da lei”, diz.
Para o delegado há uma indagação do que ser feito e porque as pessoas continuam a se comportar desta forma, sendo que, segundo ele, a punição para este tipo de conduta no Brasil é uma das mais graves do mundo inteiro. Christian enfatiza ainda que o trânsito em si é uma atividade de risco e qualquer pessoa está sujeita a ser vítima ou causadora de um acidente. “Existem cada vez mais veículos em circulação e as vias não crescem na mesma proporção. Os veículos conseguem cada vez imprimir velocidades maiores. A tendência de que acidentes aconteçam é maior. Mas se as pessoas observarem as normas regulamentares que estão no Código de Trânsito Brasileiro os acidentes vão acontecer, mas as perdas humanas e materiais serão mínimas”, enfatiza.
Christian destaca que a embriaguez ao volante continua sendo uma das maiores causas de violência e lesividade ao volante, ao lado do excesso de velocidade. “Há um problema de efetividade. As pessoas têm dificuldade de obedecer as normas do Código de Trânsito porque sabem que na prática do dia a dia as chances de serem alvos de fiscalização e de serem punidas por este desrespeito é muito pequena. Se tiver uma intensificação da fiscalização, não precisamos de agravamento de penas ou multas altas, precisamos que as medidas de punição sejam aplicadas a todos, indistintamente. Isso muda a concepção dos condutores e as leis passam a ter eficácia”, confirma.
O tenente Campos Júnior, do Batalhão de Trânsito, diz que o que tem sido observado é que os acidentes que envolvem pessoas embriagadas costumam ocorrer principalmente aos finais de semana. E essa, segundo ele, tem sido uma das maiores causas de mortes e acidentes. “Precisamos avançar na educação no trânsito, principalmente com as crianças, formando novos condutores conscientes. O que temos visto é que muitas pessoas são multadas e penalizadas e mesmo assim continuam reincidindo”, diz o tenente
Thiago França, presidente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), diz que o número de pessoas que bebem e dirigem merece atenção. “Infelizmente, segundo o Ministério da Saúde, uma a cada 5 pessoas atendidas nos prontos-socorros brasileiros vítimas de acidente de trânsito ingeriram bebida alcoólica. Mato Grosso é o primeiro estado na região Centro-Oeste e Cuiabá a 7ª capital do país em que as pessoas mais ingerem bebida alcoólica”, diz. O grande nó no trânsito brasileiro, segundo Thiago, é de comportamento humano. Para ele a sociedade precisa se conscientizar e mudar a realidade do trânsito. O presidente do Detran diz que paralelo a isso, a operação Lei Seca vem sendo realizada no Estado e só no ano passado foram mais de 240 prisões em flagrante por dirigir embriagado.
A dor de ter os 2 filhos mortos num acidente cujo suspeito estaria embriagado. Essa é a rotina vivida em quase 11 anos por Rosinéia Guimarães, 46. Em novembro de 2007 Katherine, 19, e Diego, 14, que estavam em uma moto, foram atropelados e arrastados por uma caminhonete. O caso aconteceu em Poconé (104 km ao Sul) e até hoje o homem que atropelou e matou os jovens está impune. Hoje Rosinéia mora em Cuiabá e se formou em direito, um sonho do filho Diego, que queria ser juiz. Ironia do destino, o sonho de Diego surgiu quando ele viu na televisão, em fevereiro de 2007, o caso do menino João Hélio Fernandes, 6 anos, que foi arrastado por um carro num assalto no Rio de Janeiro. Oito meses depois, Diego e a irmã Katherine morreram arrastados.
“Dá uma sensação de impunidade. É saudade todo dia. Pior de tudo é saber que a pessoa matou meus filhos e fica por isso mesmo, porque a justiça é lenta. A demora da justiça causa angústia é um sofrimento moral, um desrespeito. Pior que a saudade é a impunidade”, diz. Rosinéia afirma que chegou a cansar de ir para todos os lados sem respostas. Segundo ela, não teve um mês que ficou sem procurar respostas para o caso. “O judiciário é indiferente às pessoas. Para eles é só um monte de papel. Essa indiferença dói”, afirma Rosinéia
O caso ocorreu em novembro de 2007 quando os 2 jovens viram a caminhonete que já vinham causando alvoroço em outras pessoas. Foi quando eles decidiram encostar a moto e esperar o condutor passar. Neste momento foram atropelados e arrastados. O suspeito só parou após bater em um poste. Rosinéia diz que as testemunhas afirmaram que ele saiu do carro aparentemente embriagado e fugiu.