Está liberada em Mato Grosso a pesca esportiva no sistema pesque e solte. A atividade, polêmica entre os estudiosos, é permitida, a partir de agora, até mesmo no período da piracema, época em que os peixes se reproduzem. O professor de Ecologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Francisco de Arruda Machado, avalia a legislação como “irresponsável e sem amparo científico”. Ele diz que 60% dos peixes capturados e depois devolvidos ao rio não sobrevivem por muito tempo. O anzol machuca principalmente a área dos olhos, boca e guelras (brânquias). Os ferimentos causam hemorragia e atraem predadores.
Outro problema é a redução da habilidade do animal em comparação com outros da mesma espécie. O professor explica que o peixe perde na competição natural pela comida, integridade física e reduz a agilidade dele no processo migratório. “Muitos procuram abrigos no fundo rio porque estão machucados e acabam morrendo no local”.
Machado, que é doutor em Ecologia, alega que a implantação da lei vai reduzir a quantidade de peixes no rio e, a longo prazo, levará a extinção de algumas espécies. Os
animais que são capturados pelos pescadores sofrem graves lesões e tornam-se alvo fácil de predadores naturais. Como a lei garante a pesca também no período da piracema, a multiplicação dos exemplares também ficará comprometida.
Machado afirma que além das matrizes serem atingidas pela ação dos pescadores, os animais que ficam no rio são afetados com o trânsito intenso de barcos no leito. O excesso de barulho leva os peixes ao estresse, que impede a multiplicação. O professor exemplifica dizendo que cada exemplar produz em média 5 mil ovos dos quais cerca de 1 mil chega a fase adulta. A porcentagem de sobrevivência gira em torno de 0,1% à 1,5% e com a interferência a quantidade irá reduzir.