Líderes indígenas das etnias Enawenê-Nawê e Mynky concordaram em libertar os trabalhadores mantidos reféns desde a sexta-feira, no canteiro de obras das usinas hidrelétricas que estão construídas na região de Sapezal (480 km a Noroeste de Cuiabá). São cerca de 300 trabalhadores e ainda maquinários e veículos que foram retidos pelos índios no pátio de obras.
O entendimento foi estabelecido depois de uma reunião entre representantes do Governo do Estado, Funai, Ministério Público Federal, Polícia Federal e ONGs que trabalham com as etnias. Toda a reunião foi conduzida no dialeto dos Enawenê-nawê e Minky e traduzida para a língua portuguesa.
Aproximadamente 200 índios participaram e concordaram com a liberação dos trabalhadores e devolução dos maquinários e veículos, contudo, reivindicam a reavaliação dos estudos ambientais de construção das Pequenas Centrais Hidrelétricas na região, e ainda, a revisão dos recursos de compensação financeira repassados pelas empresas para a Funai e revertido em benefícios às etnias. Os recursos são de aproximadamente R$ 4,3 milhões.
Uma nova reunião para discussão destas reivindicações foi definida para a próxima terça-feira, em Cuiabá, com a participação das etnias e governos Estadual e Federal, além do MPF e Funai.
Segundo o superintendente de Políticas Indígenas da Casa Civil do Governo, Rômulo Vandoni Filho, os indígenas reclamam da forma de distribuição da compensação financeira para comunidades afetadas com a construção das PCHs. “São cinco etnias envolvidas e três delas estão questionando o valor distribuído por igual tanto para as comunidades mais próximas quanto àquelas mais distantes. Mas estamos buscando um entendimento pacífico, sem prejuízo para os indígenas destacou Vandoni.
A construção das PCHs na região de Sapezal integra o complexo energético da sub-bacia do Alto Juruena, com oito usinas. Cinco delas, incluindo as três que são alvo do protesto, pertencem à Juruena Participações S.A. -que reúne a Linear Participação e Incorporações e MCA Energia e Barragens. As outras estão em fase de licenciamento ambiental e serão construídas pela Maggi Energia
Apenas 10% da água que abastece estas aldeias são provenientes do local onde as Pequenas Centrais Hidrelétricas estão sendo construídas. Os outros 90% chegam de outros rios afluentes. Quanto aos peixes, a principal fonte de alimento destas aldeias, também não sofrerá qualquer impacto. No alto rio Juruena existe uma cachoeira, de mais de 25 metros, que é uma barreira natural muito antiga. Há milênios os peixes não sobem esta barreira, não chegando no local onde as PCHs estão sendo construídas. Ou seja, a ictiofauna das aldeias também não será alterada, informa a assessoria do governo estadual.