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Fórum de Trabalho Escravo está desenvolvendo palestras em Sinop

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“O Trabalho escravo é uma realidade no Brasil, não podemos negar isso. Hoje, 117 anos depois da abolição dos escravos o país possui 25 mil pessoas trabalhando em regime de escravidão e MT contribui com 20% do número nacional”, explicou Frei Xavier Plassat, Coordenador Nacional da Campanha de Combate ao Trabalho Escravo da Pastoral da Terra que completa “temos que mudar esta realidade conscientizando a sociedade e punindo efetivamente os responsáveis pelo trabalho escravo com cadeia e confisco de terra”.

Desta forma está sendo realizado em Sinop, no auditório da Unemat, de hoje até amanhã (16/04) o Fórum de Combate ao Trabalho Escravo em Mato Grosso. Na abertura do evento, pela manhã, estiveram presentes: o Coordenador Nacional da Campanha de Combate ao Trabalho Escravo da Pastoral da Terra Frei Xavier Plassat, o representante da Comissão de Direitos Humanos João Busato, o historiador da UFMT Vitali Joanani Neto, a representante da Delegacia Regional do Trabalho Bárbara Luz Gurgel Marques, o coordenados regional da Unemat Sinop Aumeri Carlos Bampi, a professora da Unemat Sinop Maria Ivonete de Souza e o Bispo Dom Gentio de Lázaro.

O primeiro a fazer uso da palavra foi João Busato da Comissão dos Direitos Humanos, “apesar da constituição afirmar que somos todos iguais atualmente uns são menos iguais que os outros e temos que acabar com esta realidade nos levantando contra ela”. Encerrando os pronunciamentos o coordenador da Unemat Aumeri Carlos Bampi deixou claro que esta é uma luta nacional e que a universidade tem que ser parceira na construção desta nova realidade. “Todos tem que ajudar a acabar com estes vampiros que através da exploração do trabalho escravo sugam não o sangue mas a vida, a essência humana”, disse Bampi.

No auditório uma platéia diversificada com pessoas de Sinop, Juara, Sorriso e região. Compareceram muitos estudantes e acadêmicos, integrantes do MST, de sindicatos de trabalhadores rurais, de Pastorais, do Ministério do Trabalho e da Delegacia Regional do Trabalho. Um público atento e participativo, disposto a assistir todas as palestras desta sexta feira (manhã e tarde) e deste sábado (manhã) na busca por soluções que acabem com o trabalho escravo no país.

Palestra com Prof Vitali Joanani Neto
Para iniciar os trabalhos a platéia pode acompanhar a palestra do professor e historiador da Universidade Federal de Mato Grosso Vitali Joanani Neto. Ele mostrou o histórico da escravidão no Brasil explicando que ela começou nos séculos 15 e 16 quando os portugueses traziam os africanos para o trabalho escravo. “Naquela época a igreja era favorável a escravidão, eles acreditavam que a África era o inferno e que a escravidão era uma boa forma para catequizar os negros. Muitos relatos de religiosos mostram que eles viam a escravidão como o purgatório necessário para que os negros pagassem pelos pecados até então cometidos”, disse Vitali.

O professor também mostrou que a abolição foi uma necessidade e não uma boa ação do governo brasileiro. “ A elite passou a contar com várias opções de mão de obra, não haviam mais apenas os negros, existiam também os brancos pobres, os mestiços, mulatos, índios e imigrantes, ou seja a exploração continuou existindo e persiste até hoje com pessoas que trabalham sem regras, sem direitos, sem dignidade”.

Vitali finalizou sua palestra com depoimentos de pessoas vitimas de trabalho escravo em fazendas, madeireiras e carvoarias espalhadas por todo país e alertou, “Atualmente a Lei não permite o trabalho escravo, mas se o estado não tem condições e força para impedir ela vira letra morta. Nós passamos a ver o trabalho escravo, a troca de trabalho por roupa e comida como algo natural mas temos que mudar e lutar pelos direitos e pela dignidade destas pessoas”.

Palestra com Frei Xavier Plassat

Na seqüência foi a vez do Coordenador Nacional da Campanha de Combate ao Trabalho Escravo da Pastoral da Terra Frei Xavier Plassat fazer sua palestra. Munido com fotos, depoimentos e muitos dados o Frei Xavier mostrou a dura realidade do trabalho escravo no Brasil onde Mato Grosso surge como o terceiro estado com maior incidência de Trabalho escravo.

Ele começou homenageando a Irmã Doroty, companheira de Pastoral da Terra, que além de trabalhar pela justa distribuição da terra era uma árdua defensora dos trabalhadores e lutava contra o trabalho escravo em sua região.

“É impossível não ver o trabalho escravo no Brasil, todos os dias a imprensa nos mostra casos envolvendo pessoas de todos os jeitos, de idosos a crianças, homens e mulheres, brancos e negros”, disse o Frei que alertou que a fiscalização contra o trabalho escravo no país tem diminuído “Em 2003 foi bom, em 2004 diminuiu e agora em 2005 tem sido quase zero, não podemos deixar isso acontecer”.

Frei Xavier mostrou que a maioria das pessoas que trabalham em regime de escravidão são do nordeste, vivem na mais completa pobreza e vêm nas promessas do gato (figura central do processo, o agenciador entre o trabalhador e o dono da terra) a esperança de uma vida melhor. São pessoas que entram neste processo por causa do dinheiro e se prendem a ele por este mesmo dinheiro em um ciclo de dívida impagáveis que os prendem ao trabalho. “Pior que não conseguir trabalho é não conseguir sair dele”, completou.

O Frei encerrou sua explanação mostrando como é importante a sociedade se engajar nesta luta pressionando os governantes para que mudem as leis punitivas. “A lei é de 2 a 8 anos mas em 10 anos menos de 5 pessoas foram punidas e até agora nenhuma terra foi confiscada tamanha a força dos ruralistas”, finalizou.

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