Única unidade escolar de Mato Grosso formada para atender o público penitenciário, a escola Nova Chance figura entre as maiores escolas do estado e completa seis anos de atuação em 2015. Criada por meio da cooperação entre a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e a Secretaria de Estado de Educação (Seduc), a escola tem hoje 2.217 apenados matriculados em 108 turmas, distribuídas em 40 das 65 unidades penitenciárias de Mato Grosso.
A diretora da Escola Estadual Nova Chance Carmem Lúcia Giuntini participou da implementação da instituição em 2009. “Em 2007 participamos de um evento no Acre onde conhecemos o projeto Educando para a Liberdade e percebemos que Mato Grosso estava muito aquém da oferta da educação em prisões. Por isso, desenvolvemos o projeto que se consolidou em 2009. Agora, atendemos os três segmentos, com salas de extensão nas unidades, e caminhamos para a construção da nossa identidade”.
Educadora há 27 anos, natural de Andradina (SP), Carmem Lúcia constituiu família em Rondonópolis (215 km de Cuiabá), onde trabalhou como orientadora na Penitenciária da Mata Grande. Agora, a frente da escola com sede em Cuiabá, a professora fica até um mês sem visitar a família no interior. Carmem é um dos muitos exemplos de mulheres educadoras que lecionam nas unidades.
Segundo dados da escola Nova Chance, apenas 10% dos professores que atuam no Sistema Penitenciário são homens. A diretora acredita que isso ocorre por resistência dos recuperandos à autoridade masculina e elogia as educadoras, “elas são guerreiras, são especiais. Nós somos uma equipe, pensamos juntos os procedimentos. Quem realmente faz a educação acontecer e avançar nas penitenciárias são elas”.
A maioria das unidades penitenciárias de Mato Grosso é antiga e não foram construídas para contemplar um espaço escolar, assim as aprofessoras atuam em celas adaptadas. Tal qual têm de se adaptar a uma identidade proativa, pois precisam dar significado científico aos conhecimentos já vivenciados pelos alunos.
Entre os poucos homens que compõem o corpo docente da instituição está José Oraci Favaretto de Lara, formado em Geografia. Ele solicitou a remoção de Jaciara para a escola Nova Chance, onde atua como secretário. “A primeira ideia de todas as pessoas quando falamos em atuar dentro das unidades é de desagrado, pois trabalhamos com pessoas marginalizadas. Mas vim pelo desafio de um trabalho diferenciado. Trabalhamos na primeira escola que atende o sistema penitenciário no estado e quando um aluno tira 700 pontos na redação do Enem sentimos que fizemos a diferença e que aqui fazemos história”, comemorou Oraci.
No ideal de ressocialização, por meio da educação, é realizado dentro das unidades penitenciárias a educação formal e cursos profissionalizantes. O secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Márcio Frederico Dorilêo, afirma que dessa forma quase 40% dos internos no Sistema Penitenciário estão estudando, o que torna Mato Grosso um expoente no Brasil.
Dorilêo destaca ainda a importância da educação dentro do Sistema Penitenciário, pois os apenados que estudam apresentaram índices de reincidência menor e melhora na reinserção social. Para ele, exemplos dessa situação são os egressos do sistema que cursam nível superior.
“Os professores são protagonistas no processo. É perceptível o respeito, carinho, acolhimento e sensibilidade do educador com o aluno interno. Dessa relação os recuperandos vão colher o que há de mais precioso: o conhecimento. Esse gesto simbólico de orientar muito se assemelha aos papéis dos pais e assim os reeducandos são resgatados”, afirmou o gestor da Sejudh.
Para os educadores da escola, os matriculados são alunos e não apenados. Porém no intuito de resguardar a todos, a postura dos professores prevê a necessidades de segurança das unidades penitenciárias e eles não interferem no andamento de cada uma. “A escola recebe as matrículas, mas essas são definidas pelo gestor de cada localidade, atendendo a critérios, como bom comportamento”, lembrou Carmem Lúcia.
De acordo com a diretora da escola Nova Chance, para que os internos consigam efetivamente apreender no período que frequentam a unidade, foi necessária a adaptação da matriz curricular. Assim, instituição trabalha com acúmulo de carga horária. Nesse caso, quando o aluno progride para semiliberdade, por exemplo, leva a carga horária para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) ou para o nível superior.
Dessa forma, estando na Baixada Cuiabana, o aluno só precisa ir até a diretoria da escola, hoje situada na lateral da Escola Estadual Nilo Póvoas. Já os alunos do interior podem receber a orientação da assessoria pedagógica ou dos Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica de Mato Grosso (Cefapros) de cada município.