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Embate entre índios e Polícia Federal em Mato Grosso deixa seis feridos

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Seis índios ficaram feridos em confronto com homens da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança durante operação deflagrada ontem para combater suposto esquema de pesca ilegal operado de dentro da terra indígena Umutina, nas proximidades de Barra do Bugres.

A operação Uauiara -uma referência ao “deus dos rios e o protetor dos peixes”, segundo a PF- foi desencadeada pela manhã e envolveu 115 homens da PF e da Força Nacional, além de 35 fiscais do Ibama e da Sema (Secretaria Estadual do Meio Ambiente). A estrutura empregada incluía nove barcos e um helicóptero.

O objetivo, segundo a PF, era desarticular um grupo de atravessadores que atuava dentro da área indígena para burlar o período de proibição à pesca conhecido como piracema –de novembro a fevereiro, quando ocorre a reprodução dos peixes.

A Justiça Federal expediu 13 mandados de prisão e 15 de busca e apreensão. Até a conclusão desta reportagem, sete pessoas haviam sido presas.

Nenhum índio teve a prisão decretada, mas, diz a PF, alguns serão indiciados por envolvimento no esquema.

Segundo as investigações, os umutinas vendiam os peixes por valores abaixo dos praticados no mercado: os atravessadores pagavam de R$ 1 a R$ 3 por quilo e revendiam o mesmo produto por até R$ 20 o quilo.

O acordo funcionava há pelo menos 14 anos e respondia por até cem toneladas anuais de pescado durante o período restrito. O montante abastecia restaurantes em diversos pontos do país, principalmente em Mato Grosso e São Paulo.

O embate entre índios e policiais ocorreu quando agentes tentavam cumprir um mandado de busca e apreensão na aldeia. Segundo a PF, os índios afundaram a balsa sobre o rio Bugres, que dá acesso à área, e armaram piquete no porto localizado na margem oposta.

Na tentativa de furar o bloqueio, houve resistência e os policiais usaram armas com munição não-letal para tentar conter o grupo. Cinco índios foram feridos com balas de borracha e um teve cortes na cabeça por estilhaços de bomba de efeito moral.

Os índios foram atendidos ainda na manhã de ontem no hospital público do município. “Levei oito pontos no couro cabeludo”, disse o umutina Sebastião Ipakiri, em entrevista por telefone à Folha.

Ele negou a versão da PF para o confronto. “A polícia chegou de surpresa e ninguém sabia de nada. Nosso cacique foi perguntar o que estava acontecendo e já foi agredido. Então todos fomos tentar defendê-lo. Foi quando começou a chover bala e bomba para o nosso lado”, disse Ipakiri.

Sobre o comércio ilegal de peixes, o índio admitiu a existência de atravessadores que “sempre vêm comprar o peixe”, mas atribuiu a situação à “falta de alternativas”.

“Há muito tempo cobramos um acordo sobre isso, para que a gente receba algum auxílio durante esse período da piracema, mas nada acontece. A verdade é que precisamos de dinheiro para sustentar nossas famílias”, disse.

O administrador da Funai de Cuiabá, Benedito de Araújo, esteve ontem no município e, à Folha, reforçou a versão dos índios. “Os umutinas não estavam na beira do rio para confronto, mas para fazer um mutirão de limpeza na estrada de acesso à aldeia. Por isso é que portavam foices e outras ferramentas. A PF chegou e talvez tenha visto a situação de forma equivocada”, afirmou.

Araújo negou que a balsa que dá acesso à aldeia tenha sido danificada deliberadamente em razão da operação.

“Essa balsa teve um defeito e está encostada há muito tempo. Não tem nada a ver com a Polícia Federal”, disse.

No final da tarde de ontem, o administrador acompanhou os seis feridos em uma viagem a Cuiabá. Além de exames de corpo de delito e fazer o registro de um boletim de ocorrência, Araújo disse que o grupo iria relatar o episódio ao Ministério Público Federal.

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