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Desmatamentos caem 95%, diz ONG

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No mês passado, 531 km2 foram desmatados na Amazônia brasileira. É uma área equivalente a um terço do município de São Paulo, grande o bastante para abrigar mais de 3 milhões de pessoas. Por incrível que pareça, trata-se de uma excelente notícia -afinal, no mesmo mês de 2004 haviam sido 10.017 km2. Uma queda, portanto, de cerca de 95%, e isso no período de maior intensidade de derrubada de árvores.

O dado desconcertante começou a circular na noite de anteontem pela internet, em reportagem de Andreia Fanzeres e Manoel Francisco Brito no sítio “O Eco” (www.oeco.org.br). Mas já era conhecido de uma dezena de pessoas na noite anterior, quando ficara pronta uma primeira análise do processamento de imagens de satélite pelo novo programa Deter (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real), esforço conjunto do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
“Tivemos um monte de problemas com a checagem”, diz Tasso Rezende de Azevedo, diretor de Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA). “Quando a notícia é muito boa, tem de checar e rechecar.” Até a manhã de ontem, nenhum erro havia sido detectado.
Azevedo arrisca algumas hipóteses para explicar essa redução inesperada: preços agrícolas (queda na soja e estabilização na pecuária de corte, os dois motores mais importantes do desmatamento), reação internacional e nacional à cifra recorde de desmatamento divulgada em 18 de maio, desmanche da corrupção com madeira ilegal em Mato Grosso (a chamada Operação Curupira, realizada pela Polícia Federal em 2 de junho), outras ações de fiscalização e repressão nas regiões da rodovia BR-163 (sudoeste do Pará) e de Lábrea (sul do Amazonas).

Batalha constante
“O desafio agora é manter esses efeitos”, afirma o diretor de Florestas. Ele espera que a boa nova ajude a aprovar no Senado, nesta semana, o projeto de lei do governo que cria a figura de concessões privadas de exploração em florestas públicas, já votado na Câmara.
O Deter não foi desenvolvido para medir desmatamento, e sim para gerar informação rápida para a fiscalização do Ibama, identificando áreas de derrubada mais intensa. O sistema tradicional de medição é o Prodes (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia), também operado pelo Inpe, que usa imagens mais detalhadas de satélite. Foram os dados anuais do Prodes que desencadearam todo o escândalo de maio, quando o país ficou sabendo que de agosto de 2003 a agosto de 2004 uma área de 26.130 km2 havia sido devastada sob ação de motosserras e queimadas.
A organização não-governamental de pesquisa Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia) criou uma metodologia de análise dos dados e imagens obtidas pelo Deter que permite, no entanto, estimar áreas de desmatamento com acuidade similar à do Prodes.

Em tempo real
Com a inovação, a ONG gerou uma ferramenta para acompanhar a destruição mês a mês. Os primeiros números obtidos já vinham apontando uma tendência de queda. O sistema indicou uma diminuição da ordem de 10% a 15% na área desmatada em abril e maio, na comparação com o mesmo período do ano passado.
“Tecnicamente, ainda há espaço para desmatar neste ano”, alerta Paulo Barreto, pesquisador do Imazon. Ele se refere, “basicamente, à questão climática”, ou seja, ao fato de que neste mês e no próximo a matéria derrubada ainda estaria ressecada o suficiente para pegar fogo.
Mesmo no cenário mais pessimista, a taxa anual de 2004/2005 ficaria entre 11 mil km2 e 15 mil km2. Na pior das hipóteses, uma redução de mais de 40% sobre a taxa recorde de 2003/2004. “Tinha de baixar”, desabafa Tasso Azevedo, do MMA.

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