João Arcanjo Ribeiro não aceita o novo título de chefe do crime organizado. Ele tentou ser didático: “O que é crime organizado?”. A explicação: crime organizado é quando pessoas se unem para praticas de delitos, crimes e contravenções. “Se isso for crime organizado, eu nunca mexi com crime organizado. Eu simplesmente fui até 2002, até 5 de dezembro de 2002, dono do jogo do bicho. Agora estou ausente”. Feito a ressalva, Arcanjo aprofundou-se: “Nunca mandei matar ninguém”.
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Aliás, o que mais ficou evidenciado foi a necessidade de provar que não é assassino ou que tenha encomendado algum crime. O de maior repercussão, envolvendo o empresário Domingos Sávio Brandão de Lima, dono do jornal “Folha do Estado”. Arcanjo negou que tivesse ficado chateado com as insistentes manchetes do jornal: uma em particular, quando foi chamado de “Al Capone de Mato Grosso”. Diz que nunca teve problemas com Brandão. Conta que chegaram a se encontrar em alguns eventos sociais.
Ele também negou relação com as mortes de Valdir Pereira, um cabo da PM que vivia na periferia de negócios perigosos. Não deixou muito clara a relação com Rivelino Brunini, empresário do ramo de caça-níqueis, mas afirmou que não tem culpa no crime ocorrida em plena tarde na Avenida Rubens de Mendonça – uma das mais movimentadas da Capital. Também afirma que não tem nada a ver com a morte de Lauro Manhoso. O sargento José Jesus de Freitas, morto a tiros ao chegar em sua casa, era um dos seus cobradores.
Arcanjo confessou que era contra os caça-níqueis porque traria problemas e disputas intermináveis pelos melhores pontos e lugares estratégicos. Ele admitiu que Brunini levou a sua presença empresários do Rio de Janeiro interessados em explorar o negócio. Tamanho respeito tem uma explicação, segundo Arcanjo: o próprio respeito aos controladores do jogo do bicho. Mas não passou disso. As insígnias do Colibri nas máquinas apreendidas em diversas operações, ele garante, não lhe pertenciam, apesar do símbolo ser sua marca registrada. “Eu brigava exatamente contra isso” – comentou.
Cobranças truculentas também não fizeram parte do repertório do homem que a Justiça acusa de ser o chefe do crime organizado. João Arcanjo Ribeiro sustenta que nunca cobrou seus devedores e que o trabalho, em verdade, era feito por empresas tercerizadas, entre as quais, aquela do sargento Jesus. Frederico Lepesteur, que amargou meses e meses na cadeia até ser libertado por problemas de saúde, também não fazia parte do seu “staff”. Era apenas, ele definiu, um “amigo”. Dos poucos que ele diz ainda ter. Tampouco atuou, garante, no ramo dos bingos.
João Arcanjo tentará provar a sua inocência. Uma fita que trata da questão envolvendo o assassinato de Brandão será chave no processo. Ela envolve a empresária Karine Ricci. Na CPI dos Bingos, Arcanjo também não deverá acrescentar quase nada: desconhece Ronan Pinto, “Sombra” entre outros nomes que figuram no caso do assassinato do ex-prefeito Celso Daniel. Arcanjo insiste que nunca atuou no negócio de transporte. Seu campo mesmo era fatoring, jogo do bicho, as emissoras de rádio, a criação de peixes e ainda o hotel nos Estados Unidos. “Vou buscar a verdade com serenidade. Confio na Justiça” – acentuou.
Enquanto espera, Arcanjo evita teorias conspiratórias, do tipo, se é tão inocente, quem estaria interessado em suas condenações. Ele diz não fazer a mínima idéia, embora em determinado momento tenha dito que tem “muitas coisa a acertar” ainda. Ele mantém a esperança viva de ser libertado logo. Se alguém o deve, que se prepare.
Ainda desmistificando a imagem de homem mau, Arcanjo nega que as pessoas tinham medo de sua presença. Procurou descaracterizar, inclusive, as idas a missa das 5 na Igreja de São Benedito. Dizem que ninguém queria ficar perto do “comendador”. A segurança era reforçada. “Todos queriam ficar perto de mim” – enfatiza. Prova disso, ele diz, que mesmo preso recebe recados de pessoas humildes que acreditam na sua inocência: “Recebo bilhetes de pessoas que estão orando por mim” – comentou.
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