Tabus existem para serem quebrados. E foi isso que o Santos fez neste domingo, diante do São Caetano, no Morumbi. Com uma vitória por 2 a 0, o time da Vila Belmiro tornou-se o primeiro time a reverter uma desvantagem de dois gols em uma partida decisiva do Paulistão e sagrou-se bicampeão estadual.
Adaílton, aos 25 do primeiro tempo, e Morais, que entrou na etapa final no lugar de Jonas, garantiram a taça para o time da Vila Belmiro. A última vez que o time da Baixada alcançou duas conquistas seguidas no Paulistão aconteceu no final da década de 90 (1968 e 1969), quando o time ainda era comandado pelo Rei Pelé e seus “súditos”. O último bicampeão estadual era o Palmeiras, que arrematou as taças de 1993 e 1994 sob a batuta do técnico Wanderley Luxemburgo.
O começo da caminhada rumo ao bi neste domingo, no entanto, foi recheada de dificuldade e nervosismo. Com Maldonado escalado na lateral direita e Pedrinho, com a camisa quatro, mas atuando no meio-campo, o Peixe foi para cima do Azulão e perdeu duas ótimas chances para marcar o gol antes dos dez minutos, ambas com Marcos Aurélio.
Logo a um minuto, o centroavante recebeu na esquerda, balançou em cima da zaga e chutou forte, por cima do gol de Luis. Na seqüência, Canindé se desentendeu com Jonas e levou o primeiro cartão amarelo da decisão. Na segunda vez em que tentou atacar pela esquerda, o Peixe quase abriu o placar. Zé Roberto puxou contra-ataque e serviu Marcos Aurélio, que entrou em velocidade na área, mas bateu torto, à esquerda do gol de Luis.
Fechadinho, o São Caetano fazia de tudo para diminuir os espaços do Peixe no campo ofensivo e, bem instruído, esperava o erro do Peixe para encaixar um contra-ataque e definir o campeonato. Pegando pesado nas faltas, os jogadores do Azulão conseguiam irritar os já nervosos jogadores do Peixe.
Um minuto depois de Fábio Costa mostrar suas “ferramentas” pela primeira vez, saindo com os pés quase no joelho de Luis Alberto, o Santos teve nova oportunidade para abrir o placar com Zé Roberto, que avançou pelo meio e bateu cruzado, para boa defesa de Luis. Na cobrança do escanteio, não teve jeito. Pedrinho bateu fechado e Adaílton, como um raio, se antecipou ao goleiro para abrir o placar e marcar seu primeiro gol com a camisa do Peixe.
O gol foi um balde de água fria no bem arrumado time de Dorival Júnior, tanto que nos dez minutos seguintes Rodrigo Souto, em arrancada fulminante, Jonas, com um chute sem ângulo, na trave, e Zé Roberto, obrigando Luis a fazer um milagre, quase deram ao Peixe a vantagem necessária para ficar com o bicampeonato.
O São Caetano chegou pela primeira vez ao ataque depois de boa jogada de Douglas, que passou como quis por Ávalos e serviu Somália, mas o chute do artilheiro do campeonato saiu mascado, pela linha de fundo. Antes do intervalo, em uma besteira do zagueiro Ávalos, o São Caetano teve outra oportunidade, com falta perto da risca lateral da área. A cobrança, no entanto, não levou perigo e o primeiro tempo terminou mesmo 1 a 0 para o Peixe, que continuou pressionando e teve mais três escanteios a seu favor antes da descida para os vestiários.
Mais pressão: O Santos voltou para o segundo tempo da mesma forma que começou o primeiro: pressionando. O São Caetano, por sua vez, trocou o inoperante Canindé pelo marcador Galiardo, na esperança de aumentar ainda mais as dificuldades do Peixe no setor de criação. E foi justamente Galiardo quem chutou a gol pela primeira vez, logo aos 40 segundos, assustando Fábio Costa.
O nervosismo deu o tom nos minutos seguintes e o grito de gol ficou preso na garganta da torcida do Santos aos oito, depois de Kléber receber na esquerda e cruzar para Zé Roberto, impedido, quase cabecear o chão antes de desperdiçar ótima oportunidade para fazer 2 a 0. Jonas, atrapalhado, também teve o título em seus pés, mas atrapalhou o ataque e irritou Luxemburgo, que o tirou de campo para a saída de Moraes.
A resposta de Dorival Júnior foi rápida. Para fechar ainda mais o time, o treinador do Azulão apostou na repetição da equipe que venceu a primeira decisão e sacou Glaydson para a entrada de Ademir Sopa, responsável por anular Zé Roberto no último domingo.
Logo na seqüência, Cléber Santana aproveitou cobrança de falta de Kléber e fez 2 a 0, mas o auxiliar Ednílson Corona colocou um fim na festa da torcida do Peixe, alegando impedimento do camisa 11 santista. Foi a senha para a torcida do São Caetano, em bom número, soltar o grito de “é, campeão”.
O São Caetano entrou no ritmo da animada torcida e passou a buscar o empate para selar a conquista com chave de ouro. Por alguns minutos, os pouco mais de quatro mil torcedores calaram a enorme massa santista que foi ao Morumbi e viram seu time levar perigo ao gol de Fábio Costa.
Quando o cronômetro marcou 29 minutos, Wanderley Luxemburgo lançou mão de suas cartadas finais e mandou a campo Carlinhos e Rodrigo Tabata, sacando Pedrinho e Cléber Santana. Dorival, por sua vez, sacou Luiz Henrique para a entrada de Marcelinho, revigorando o contra-ataque do Azulão.
Os minutos finais do duelo foram de arrepiar, com o Santos se lançando mais do que nunca ao ataque e o São Caetano esfriando o jogo sempre que possível. A seis minutos do fim, Carlinhos, que acabara de entrar, arrancou pela esquerda e cruzou para Morais, o filho de Aloísio Guerreiro, ex-atacante santista, subir mais do que a zaga e colocar o Peixe perto do bicampeonato: Peixe 2 a 0.
Antes do apito final, o mesmo Moraes teve a chance de fazer o terceiro, mas acertou as redes pelo lado de fora. Catimbeiro como o pai, o atacante ainda “cavou” a expulsão de Luis Alberto, ao provocar o volante do Azulão e ser empurrado pelo rival. Foi o último lance de emoção para a torcida santista que levou quase 60 mil apaixonados ao Morumbi. Santos, bicampeão estadual.