Desemprego em larga escala, fechamento de madeireiras e queda abrupta nas exportações de madeira do Pará. Esses serão os principais reflexos da moratória dos desmatamentos na Amazônia, por um prazo de seis meses, que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deve anunciar na próxima semana.
O Estado do Mato Grosso – responsável por quase 50% de todos os desmatamentos feitos na Amazônia no período de agosto de 2003 a julho de 2004 -, será o primeiro a ser atingido pela medida drástica das autoridades ambientais do governo, que deve ser estendida aos Estados do Pará e Rondônia.
“É uma maluquice, algo fora da realidade”, protesta o secretário-executivo de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Pará (Sectam), Gabriel Guerreiro. “A ministra Marina Silva está nadando no meio do rio Amazonas, contra a correnteza, e precisa de uma bóia para se agarrar”, compara Guerreiro. Para o secretário, “eles (do Ministério do Meio Ambiente) estão perdidos e inventando coisas”. Guerreiro compara as medidas do Ministério do Meio Ambiente com a tradição paraense da fogueira de São Marçal. “É um fogaréu momentâneo. Depois de 10 minutos, não tem mais nada”, compara.
Pesquisador assistente do Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), o engenheiro florestal Marco Lentini reconhece que a decretação da moratória pode ser uma medida importante para reduzir os desmatamentos na floresta amazônica, mas desde que venha acompanhada de outros atos, como a liberação dos planos de manejo que estão brecados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “Até as empresas certificadas estão tendo dificuldades”, alerta Marco Lentini.
Uma moratória dos desmatamentos na Amazônia, agora, na avaliação de Marco Lentini, terá graves repercussões na indústria madeireira. “Está começando a safra. A medida do governo é bem intencionada, mas a indústria não terá como se suprir de matéria prima”, alerta o pesquisador.
Medida drástica – Para controlar os cortes de árvores na Floresta Amazônica, que entre agosto de 2003 a julho de 2004 provocaram desmatamentos numa área superior a 26 mil quilômetros quadrados – um território do tamanho do Estado de Alagoas -, o Ministério do Meio Ambiente decidiu adotar medidas drásticas e a moratória do desmatamento, por um prazo de seis meses, seria a primeira delas.
A medida, que será adotada inicialmente no Estado do Mato Grosso, será estendida posteriormente aos Estados do Pará e Rondônia, que ocupam respectivamente o 2º e o 3º lugares entre os Estados que mais derrubaram floresta tropical úmida nos últimos anos. Pará, Mato Grosso e Rondônia respondem por 95% da produção madeireira dos Estados da Amazônia Legal.
O anúncio da moratória dos desmatamentos foi feito pelo interventor do Ibama em Mato Grosso, Elielson Ayres de Souza. Ele disse que a medida, batizada de moratória do desmatamento, é inédita no Brasil e poderá ser estendida brevemente aos Estados de Pará e Rondônia. Segundo o interventor, a ministra do Meio Ambiente Marina Silva assinará a portaria com a proibição em Mato Grosso na próxima quarta-feira.
Curupira – Em Mato Grosso, Pará e Rondônia foram decretadas pela Justiça Federal, no início de junho, as prisões de 147 supostos integrantes de uma quadrilha responsável por esquema de desmatamento ilegal, que teria assegurado a derrubada de cerca de 2,5 milhões de metros cúbicos de madeira. É o equivalente a 83 mil caminhões carregados, uma carga avaliada em quase R$ 1 bilhão. A Polícia Federal indiciou 90 acusados, entre eles servidores do próprio Ibama, órgão que sofreu intervenção no Estado.