Uma década sem recordes. É com o peso da estagnação técnica que a 81ª São Silvestre larga neste sábado, tentando acabar com o estigma de, ano após ano, ver suas melhores marcas distantes do presente.
Bicampeão da prova, Robert Cheruiyot não prevê quebra de recorde na São Silvestre
O recorde da prova masculina foi cravado há exatos dez anos: 43min12s, por Paul Tergat, que estreava. O marasmo é ainda maior no feminino, cujo melhor tempo é de 1993: 50min26s, de outra debutante, Hellen Kimayio. A queniana está afastada das principais competições há cinco anos.
Nunca, na história da São Silvestre, os recordes ficaram tanto tempo estacionados -a prova já teve 19 alterações de percurso.
As boas marcas são inversamente proporcionais à temperatura do dia da São Silvestre.
Assim, para 2005, a esperança de quebra de recorde é caso faça temperatura mais amena. Tergat cravou seu recorde com 23ºC -clima considerado pouco normal para a época. A marca de Kimayio, por sua vez, foi obtida com 25ºC, em uma tarde nublada.
A previsão do tempo para este sábado indica temperatura máxima de 27ºC, com possibilidade de chuva nas provas feminina e masculina.
“Vencer a São Silvestre em 43min12s é coisa só para o Tergat”, reconhece Ricardo D’Angelo, treinador de Vanderlei Cordeiro de Lima, uma das esperanças nacionais na prova de hoje.
“Vai ser difícil alguém bater esta marca, neste ano ou nos próximos. Acho que no feminino será ainda mais complicado.”
Sirlene de Pinho, quinta colocada em 2003, discorda. “Para mim, o recorde cai amanhã.”
Manuel Garcia Arroyo, diretor-técnico da competição, foi sucinto ao analisar a falta de recordes na São Silvestre. “Aqueles atletas eram melhores que os de hoje.”
Bicampeão, Robert Cheruiyot evita previsões para superar a marca de seu compatriota.
“Vou fazer meu melhor, mas o tempo dele foi impressionante. Se o recorde não vier neste ano, pode vir nos próximos”, desconversou o corredor cujo melhor tempo na São Silvestre é 44min43s, obtido no ano passado -1min31s mais lento do que a marca de Tergat.
Dono das duas melhores marcas da São Silvestre, o Quênia terá número recorde de corredores na edição deste ano: 18 fundistas, somando homens e mulheres.
Os brasileiros também contarão com um número inédito de ex-vencedores tentando o bicampeonato na prova: três. Marilson dos Santos (ganhador em 2003), Emerson Iser Bem (1997) e Marizete Rezende (2002) buscarão o fim de um jejum de 20 anos.
Desde a vitória de José João da Silva, em 1985, nenhum nacional bisou o triunfo na mais tradicional prova de rua do país.
Alheios a essa disputa, outros brasileiros com bons resultados buscam o primeiro triunfo. É o caso de Franck Caldeira, 22, campeão da Maratona de São Paulo de 2004, José Telles, 34, vencedor da mesma prova neste ano, e Rômulo Wagner da Silva, 28, vice da São Silvestre em 2003.
A lista feminina tem como expoente Lucélia Peres, 23, vice-campeã da prova em 2004.
Se Cheruiyot é o destaque, a legião queniana também tem outros candidatos ao pódio, como Patrick Ivuit, 27, e Salim Kipsang, 26, medalha de ouro na Maratona de Paris-05, em abril.
Entre as mulheres, a principal representante do país africano é Margareth Karie, 25, que terá forte concorrência de Anesie Kwizera, 19, do Burundi, e Olivera Jevtic, 27, da Sérvia e Montenegro, que venceu a prova em 1998.
Cada vez mais intensa, a rivalidade entre Brasil e Quênia na São Silvestre foi iniciada nos anos 90. Desde que a potência africana integrou a prova, em 1992, conquistou 14 das 26 vitórias, somando as disputas masculina e feminina. Mais vitoriosos, Brasil e Quênia ganharam 85% das edições da São Silvestre nos últimos dez anos.