Dois anos depois de ser sancionado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar ainda é alvo críticas do setor produtivo. Com o embargo de terras em Mato Grosso para produção de etanol e açúcar, o Estado está perdendo investimentos de cerca de R$ 8 bilhões e a geração de empregos também foi afetada. Mesmo depois de sancionado, produtores acreditam na revisão do zoneamento e julgam exageradas as restrições impostas pelo documento.
Diretor-executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindalcool/MT), Jorge dos Santos, explica que a produção de etanol está modernizada e o que os ambientalistas usam de argumento para evitar expansão do plantio é a vinhaça, que atualmente é utilizada como fertilizante para o canavial.
Vinhaça é um produto resultante da destilação da cana-de-açúcar considerado poluente, porém, após ser tratada é reutilizado na fertiirrigação. Segundo Santos, com o zoneamento, a produção mato-grossense estagnou e somente a usina da ETH Bioenergia foi concluída e incrementou a produção desde 2009, quando o zonemento entrou em vigor.
João Petroni, presidente da Barralcool, explica que a empresa tinha pretensão de expandir a produção, mas que devido ao zoneamento teve que restringir os investimentos somente para o que já estava planejado. “Nos permitirão dar prosseguimento ao que estava em andamento, mas tínhamos intenção de ampliar ano após ano”. Segundo ele, em 2 anos a plantação deverá ampliar de 29 mil hectares para 44 mil (ha).
Produtor da região de Tangará da Serra, Normando Corral revela que um grupo de 50 produtores de cana-de-açúcar tinha o projeto de construir duas usinas, cada uma com um investimento de R$ 4 bilhões, mas que não foi possível devido às restrições. Acredita que o maior prejuízo é para o Estado, que deixa de gerar empregos e se desenvolver. “Neste período Mato Grosso do Sul e Goiás aumentaram a produção em 4 vezes e nós ficamos de fora”. Além da Cia Terra, há também um projeto no município de Denise que não conseguiu a licença ambiental, mesmo após projeto de R$ 1 milhão.
Atualmente Mato Grosso possui 220 mil hectares plantados, dos quais 205 mil (ha) são para moagem e o restante é de muda para renovação da plantação. Para este ano, a previsão é que 13,9 milhões de toneladas sejam processadas, o que vai produzir 428 mil toneladas de açúcar, 540 milhões de litros e etanol hidratado e 347 milhões de litros de etanol anidro.
Segundo Jorge dos Santos, Mato Grosso é autossuficiente e as ampliações poderiam aumentar a exportação do combustível para outros estados. Porém, ele ressalta que para isso é preciso investir na construção do alcoolduto ou esperar a chegada da Ferronorte até Rondonópolis. “Atualmente é inviável enviar etanol porque 20% dos custos seriam de frete, o que tornaria o preço não competitivo com mercado em outros estados”. O Estado vende produto para unidades federativas da região Norte do país. Normando Corral revela que o setor se reuniu recentemente com o governador Silval Barbosa (PMDB) e o mesmo se comprometeu a intervir em favor da revisão e suspensão do atual zoneamento, em Brasília.
Em Mato Grosso havia 85 projetos de expansão de produção, dos quais 58 foram finalizados e o restante teve que parar, ou por falta de investimento ou em decorrência do zoneamento, que classificou que 80% da produção está em locais impróprios, o que anula possibilidade de crescimento. Entre 2006 e 2011 a moagem passou de 12 milhões de toneladas para 13,9 milhões (t), variação considerada pequena se comparada ao consumo.