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Maior parte da produção leiteira de MT não atende padrões de qualidade

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Com um rebanho de 1,5 milhão de cabeças de gado leiteiro – proporcional a 5,17% do rebanho de gado de corte -Mato Grosso produz anualmente 760 milhões de litros de leite em 20,9 mil propriedades. Deste volume, 70% ainda não atendem às regras de qualidade da Instrução Normativa 62, publicada em 29 de dezembro de 2011, em substituição a IN 51. Com potencial para alcançar o topo do ranking dos maiores produtores estaduais do país, Mato Grosso precisa fortalecer a produção e aprimorar a qualidade do leite produzido, observa o zootecnista e técnico do Serviço de Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Agnaldo Manhezo.

Em busca desses avanços, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) realizou na última sexta-feira (20) o 1o Dia de Campo sobre produção leiteira, no município de São José dos Quatro Marcos, localizado na principal região produtora do Estado. Cadeia produtiva será o centro dos debates durante o Encontro Internacional dos Negócios da Pecuária (Enipec 2012), tradicionalmente voltado à pecuária de corte e programado para outubro deste ano, informa o presidente da federação, Rui Otoni Prado.

Com produção nacional de 30,5 milhões (l) de leite por ano, o país ainda importa em alguns meses do ano o triplo da produção mato-grossense, afirma Prado. “O problema é que em Mato Grosso a produção de leite ainda oscila muito ao longo do ano”. Outra situação verificada é que os preços pagos ao produtor diferem no território estadual e oscilam muito durante o ano. Para corrigir essas distorções e fixar um preço médio a intenção é criar o Conselho do Leite de Mato Grosso (Conseleite), constituído por membros dos setores produtivos e industrial.

Atualmente há duas entidades que congregam os representantes dos produtores (Associação dos
Produtores de Leite/Aproleite) e da indústria (Sindicato das Indústrias de Laticínio/Sindilat). Para garantir o fortalecimento da produção e a melhoria da qualidade do leite por meio de treinamentos técnicos está sendo discutida a criação de um Centro de Referência do Leite, com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Instalação pode ser em São José dos Quatros Marcos. “Estamos procurando baixar os custos e melhorar a produção como uso de tecnologia e a organização dessa cadeia produtiva”.

Presidente da Aproleite, Alessandro Casado, lembra que o diagnóstico da cadeia do leite em MatoGrosso, realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), revelou que 81% dos produtores do Estado não recebem assistência técnica. Para ele, levando conhecimento aos produtores será possível mudar da 10a para a 5a posição no ranking nacional dos maiores produtores de leite do país em 2 anos.

Preço e Custo – Pela média nacional, o custo de produção do leite equivale a 85 centavos/l. Em Mato Grosso está estimado em 63 centavos/l, enquanto o preço médio de venda é de 76 centavos/l. Para melhorar o valor pago ao produtor, uma alternativa é remunerar pela qualidade do produto e não apenas pelo volume de produção, diz o presidente da Aproleite. Uma mudança recente que beneficiou os produtores, segundo avaliação dos mesmos, foi a aprovação da Lei 12.699/12. Legislação determina que as indústrias informem até o dia 25 de cada mês o preço pago ao produtor pelo litro de leite. Antes dessa regulamentação, os produtores só sabiam o quanto receberiam pelo produto cerca de 60 dias depois de entregar a produção.

Indústria – Em Mato Grosso, as indústrias operam com uma taxa média de ociosidade de 40% e chega a 50% na entressafra, segundo o presidente da Cooperativa Agropecuária do Noroeste do Mato Grosso Ltda (Coopernoroeste), Ademar Furtado. Empresa detém a marca Lacbom e bonifica os produtores de acordo com a produção (15 centavos/litro) e a qualidade (5 centavos/l), garante o presidente. Neste ano, com a importação de leite argentino e uruguaio o volume de vendas diminuiu. “É normal as indústrias estocarem 30% do volume processado, que demora até 90 dias para se esgotar, mas agora está demorando o dobro do tempo”. Por isso, a previsão é que os preços se mantenham no atual patamar, inclusive para o consumidor final. Furtado acrescenta que neste ano houve queda nos preços em comparação com o mesmo período do ano passado e elevação no custo de produção.

Produção – Média da produção de leite estadual é de 3 litros por dia por animal, enquanto no país chega a 6 litros/dia, segundo o presidente da Aproleite. Em comparação com a produtividade diária alcançada em Goiás (8,17 litros), maior produtor regional, o volume obtido em Mato Grosso por vaca em lactação é 38% inferior, conforme estudo do Imea. Comparando a produção por hectare ao ano, em Mato Grosso (1,143 mil litros) foi 84% menor que em Goiás (2,103 mil litros).

Poucos produtores conseguem garantir uma produtividade superior, como é o caso dos proprietários da Fazenda Irmãos Santos, Luiz Carlos dos Santos e José Carlos dos Santos. Na propriedade de 600 hectares eles mantêm 90 vacas produzindo em média 12 litros cada uma, além de 550 cabeças de gado de corte. Há 10 anos, quando iniciaram a atividade, mantinham 15 vacas produzindo 5 litros de leite cada uma, relembra José Carlos. “Começamos com agricultura e passamos para pecuária de corte e incluímos a pecuária leiteira, porque na época o preço do milho era muito baixo”. Evolução na produtividade resultou da melhoria genética do rebanho, alimentação e manejo. Mantendo a pecuária leiteira como principal fonte de renda, o produtor Devanildo Adão Muniz garante em média 7 litros de leite diários por animal. “O gado vem melhorando. Faço rotação de pastagem e compenso com ração na seca”.

Na avaliação da pesquisadora da Embrapa Agrosilvopastorial, Roberta Carnevale, os desafios da pecuária leiteira em Mato Grosso é aumentar a produção, reduzir os custos e aumentar o lucro. Para isso, será necessário melhorar todo o processo do sistema de produção, utilizando opções mais econômicas e escolhendo as raças que compõem o rebanho de gado leiteiro. Intervenções incluem ainda a utilização de pessoas habilitadas para a atividade e treinamento periódico.

“O produtor deve fazer a divisão de lotes de animais dentro da propriedade e acompanhar a produção leiteira de cada um, para ver onde e como pode melhorar”. Em relação à alimentação, explica que podem alternar a pastagem com canavial, milho e forragem. Carnevale diz que 60% do custo de produção na pecuária leiteira corresponde ao uso de ração a base de farelo de milho e soja. “Hoje em dia não dá para pensar em produzir leite de maneira amadora e para isso o produtor terá que buscar assistência técnica”. Acrescenta que 65 técnicos estão sendo treinados na Embrapa para prestar essa assessoria no campo. Quanto à qualidade do leite produzido, o técnico do Senar, Agnaldo Manhezo explica que o produtor deve cuidar não só da alimentação como da higienização pessoal e do animal, do local onde realiza a ordenha e onde coleta o produto. Garantir a temperatura adequada no armazenamento do produto (até 7 graus Celsius) é outro ponto fundamental a ser observado tanto pelo produtor quanto pela indústria.

 

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