O preenchimento das vagas de emprego em Mato Grosso na última década ficou abaixo de 50% do total ofertado. Números fornecidos pelo Sistema Nacional de Emprego (Sine) em Mato Grosso mostram que desde 2003 até agora foram geradas 437,997 mil vagas no mercado de trabalho local e 216,752 mil (49%) foram preenchidas. De janeiro a maio deste ano foram abertas 18,516 mil postos e 7,555 mil, o equivalente a 40,80%, foram preenchidas. No ano passado, o índice permaneceu inferior, com 20,412 mil candidatos garantindo 35% do total de 57,507 mil vagas disponibilizadas.
Superintendente do Sine estadual, Clélia Borges Teodoro Inouye, afirma que para cada vaga anunciada são encaminhadas em média 3 pessoas, mas que a baixa qualificação dos trabalhadores associada ao elevado grau de exigência das empresas impede um melhor aproveitamento das oportunidades de trabalho.
Entre os anos de 2003 a 2013, um total de 1,004 milhão de pessoas foi encaminhado para 437,997 mil vagas de emprego, resultando em 216,752 mil colocações. Proporção é de um aproveitamento de 21,57% das vagas, considerando o total de candidatos. Diante dos números, percebe-se a manutenção de um círculo vicioso no mercado de trabalho, com empregados em busca de remuneração melhor e empregadores buscando adequar os gastos com salários ao que sobra depois de descontadas outras despesas, como impostos, investimentos e serviços, exemplifica a diretora geral da SR Capacitação e Consultoria, Diane Taques.
"Nesse meio está postado as deficiências de um país que investe muito pouco ou quase nada em educação e ainda distribui dinheiro por meio de bolsas sociais para o que deve e não deve". Num cenário de baixa qualificação, os empregadores começam a assumir a responsabilidade de capacitar os próprios funcionários, completa a especialista em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas da mesma empresa, Elaine Fernandes. "A carga tributária que os empregadores assumem é outro fator que contribui para a oferta de menores salários e redução de postos de trabalho".
Reumenração- Normalmente as vagas ociosas no mercado de trabalho são para funções remuneradas com salário comercial (R$ 785) ou que oferecem poucos incentivos ao trabalhador, se limitando a vales refeição e transporte, avalia a superintendente do Sine. Ela concorda que a manutenção de programas de assistência social pelo governo federal alimenta o comodismo de uma parcela da população que não busca garantir um emprego fixo.
Outro problema identificado pelo empresário do comércio, Roberto Peron, é a alta rotatividade no mercado de trabalho. Ele endossa que muitas empresas têm admitido mão de obra desqualificada e assumido a responsabilidade de preparar esses trabalhadores para funções específicas como alternativa para suprir o déficit no mercado de trabalho. "Não sabemos se é por causa da quantidade de vagas no mercado, mas muitos ficam menos de 1 mês no emprego e saem". Na atividade comercial, os salários comissionados têm sido pouco atrativos para os trabalhadores, completa Peron. "Eles querem salário fixo, mas para as empresas é importante manter as metas e garantir que a produtividade fique em alta".
Na opinião do presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Cuiabá e Municípios (SintraiCCC), Joaquim Santana, a ociosidade das vagas de emprego é gerada pelos próprios empregadores. "Hoje tem uma falácia muito grande de qualificação, mas os patrões não têm interesse em qualificar e valorizar o trabalhador, já que não abrem mão de meia hora para que os funcionários possam frequentar cursos".
Em busca de uma oportunidade na área administrativa, Katiane da Silva, 30, relata que frequentou cursos de qualificação enquanto trabalhava. "Estava há 4 meses recebendo seguro-desemprego e fiz mais um curso de auxiliar- administrativo". Graduada recentemente em Administração de Empresas, Luciana do Nascimento, 30, diz que as empresas não oferecem benefícios para compensar os baixos salários. "Oferecer auxílio refeição e transporte deve ser obrigação das empresas, sem descontar dos salários dos trabalhadores".
Vagas – Nesta última semana foram ofertadas 606 vagas de emprego somente em Cuiabá, segundo acompanhamento do Sine. Maior parte delas é para as áreas do comércio e construção civil. Apontada por outros segmentos econômicos como responsável por atrair grande parte dos trabalhadores, a construção civil continua enfrentando dificuldades para preencher as vagas em Mato Grosso, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção (Sinduscon/MT), Cezário Siqueira. Assim como outros segmentos, a construção civil também registra elevada rotatividade nos postos de trabalho. "Temos vagas, mas os trabalhadores que estão chegando agora já querem iniciar com remuneração compatível à dos profissionais que estão na atividade há mais tempo e ficam focados apenas no salário". Siqueira sustenta que a valorização profissional está atrelada à qualificação do trabalhador. "As obras da Copa vão acabar e vamos continuar sem mão de obra qualificada, por causa desse imediatismo e porque não há uma educação para o mercado de trabalho no país".
Coordenador da Escola de Vendedores, Marcos Taveira reforça que o déficit de mão de obra no comércio e atacado é alto. No setor atacadista faltam profissionais principalmente para as funções de vendedor, operador de empilhadeira e motorista entregador. Para ele, o crescimento do setor evidencia ainda mais a insuficiência de profissionais qualificados. "Por isso, estamos oferecendo cursos na Escola de Vendedores (mantida pelo Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Estado de Mato Grosso e Associação Mato-grossense dos Atacadistas e Distribuidores) e temos um projeto de criar um banco de talentos, para auxiliar as empresas na contratação".