A economia mundial já enfrenta um período de recessão. Os Estados Unidos
enfrentam uma crise econômica como há muitas décadas não se via. Mas
será que essa situação trará reflexos importantes à economia brasileira? Das
classes sociais mais altas às mais baixas esta é, com certeza, a pergunta mais
recorrente no que diz respeito ao ano de 2009.
Diante desse momento de incertezas, o IBOPE Inteligência foi às ruas conhecer o
que a população espera para o próximo ano diante da turbulência no cenário global.
O estudo intitulado Perspectivas 2009 foi realizado pela empresa durante o mês de
novembro (veja no boxe detalhes sobre a metodologia) e revela que tanto a população
– que se mostra otimista – como os executivos e os especialistas já estão envolvidos
com a crise. “Para a população, ela ainda está distante, enquanto para os outros – na
medida em que têm um conhecimento mais profundo – estratégias já começam a ser
desenhadas ou implantadas”, avalia Nelsom Marangoni, CEO do IBOPE Inteligência.
A pesquisa aponta que 86% das pessoas entrevistadas conhecem a existência da crise, enquanto apenas 5% acreditam que ela não exista e 9% não sabem responder. Ao mesmo tempo, 59% se apresentam preocupadas e 18% não estão nada preocupadas. O estudo demonstra, também, que há preocupação com os efeitos dessa crise: mais da metade (53%) crê que ela já está atingindo o Brasil; outra parcela significativa (32%) afirma que a crise ainda não está atingindo o Brasil, mas poderá atingir; e 49% declaram que poderá afetar sua família.
Mais um fator da pesquisa que demonstra que a crise é de conhecimento geral da população é a percepção de notícias sobre a economia veiculadas na mídia. Mais da metade (52%) registra a divulgação de informações mais negativas ante 20%, que mencionam informações mais positivas. “No universo cognitivo das pessoas, a
crise está presente, atuando no mundo das idéias, mas ainda não se materializou. Tanto é assim que há um clima de otimismo no ar”, explica Marangoni.
Os números demonstram que 74% dos entrevistados acreditam que o ano de 2009 será melhor do que 2008 – entre quem acha que existe uma crise econômica internacional e entre os que se dizem preocupados com ela, a expectativa é muito parecida: 75% e 77%, respectivamente – e apenas 7% afirmam que será pior. “O brasileiro já percebe alguns reflexos da crise internacional, seja na economia do País, seja na vida pessoal, pois 27% acreditam que a crise está afetando a sua família, no entanto, é possível notar certa tranqüilidade na população”, explica Malu Giani, gerente de Atendimento e
Planejamento do IBOPE Inteligência. “Ainda que exista uma expectativa de ‘arranhões’ ou até ‘rachaduras’ na economia, há a sensação de que sua estrutura será preservada”,
diz a executiva.
A pesquisa mostra que há uma expectativa positiva quanto à própria renda: 37% acham que vai aumentar nos próximos seis meses, 42% dizem que não vai mudar e
11% acreditam que vai diminuir. Esses índices estão muito próximos dos levantados na pesquisa que foi realizada para uma série histórica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em junho, quando ainda não se falava em crise. Ainda segundo
o estudo Perspectivas 2009, os gastos pessoais com bens de uso doméstico de maior valor também devem aumentar na opinião de 34% dos entrevistados ou se manter no
patamar atual (38%). Ao mesmo tempo, 24% dizem que pretendem diminui-los nos próximos seis meses.
Para Marangoni, a crise poderá ser sentida se, de fato, ocorrer sua materialização nos próximos seis meses, por meio do aumento do desemprego, da perda de poder
aquisitivo, do aumento da inflação e da dificuldade de acesso ao crédito. “Discute-se a crise, mas a população ainda não a sente diretamente”, avalia o executivo.
A percepção de aumento da inflação e desemprego no País para o primeiro semestre de
2009 está um pouco abaixo da registrada na pesquisa divulgada em setembro pela CNI. “Naquele momento, o presidente Lula atingiu o auge da avaliação positiva de seu
governo”, comenta Malu. Dessa forma, permanecem positivas as expectativas, pois 37% acham que a própria renda vai aumentar nos próximos seis meses, 42% dizem
que não vai mudar e 11% acreditam que vai diminuir – índices que estão muito próximos dos levantados na pesquisa realizada para a CNI em junho, quando ainda não se falava em crise. Além disso, 72% acreditam que os gastos pessoais com bens de uso doméstico de maior valor devem manter-se ou aumentar.
Se a crise se materializar, a população está preparada, uma vez que ela já aponta medidas para enfrentar a situação e demonstra disposição em adiar planos ou
reduzir gastos: 48% da população declara que não vai assumir mais prestações e 40% diz que vai reduzir gastos com lazer. “Mas tudo isso sem desespero”, enfatiza Malu.