O dólar comercial registrou forte alta nesta quinta-feira. A moeda norte-americana registrou avanço de 3,26%, cotada a R$ 1,927 para venda, maior valor registrado no mês de julho. Além disso, essa foi a maior variação positiva do dólar em mais de um ano – em 24 de maio de 2006, a moeda teve alta de 4,71%, cotada a R$ 2,4.
O Banco Central entrou no mercado no final do pregão e comprou moeda a R$ 1,925 (taxa de corte). Nas casas de câmbio paulistas, o dólar turismo foi cotado a R$ 2,02 (venda), em alta de 2,02%.
A taxa de risco-país, medida pelo indicador Embi+ (JP Morgan), marcou os 221 pontos às 16h25, com avanço de 21,42%. O indicador, considerado uma das principais referências sobre a confiança dos investidores na economia brasileira, opera no nível mais alto desde o fim do ano passado.
De acordo com Expedito Araújo, analista da corretora Alpes, as vendas de ativos pressionam esse indicador. “Esse índice é composto por uma cesta de papéis com determinado peso. Certamente está havendo perda em alguns casos, o que eleva o valor do risco-país”, afirma. Ainda segundo ele, não é exatamente um problema com a economia brasileira.
Já a valorização do dólar frente ao real foi influenciada pelo movimento negativo na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), assim como nas Bolsas internacionais. Com isso, o fluxo de entrada do dólar no país diminuiu e alavancou a sua cotação.
Segundo João Medeiros, diretor de câmbio da corretora Pioneer, a situação está “complicadíssima”. “Não é apenas uma questão brasileira. Todas as moedas do mundo voltaram a se valorizar frente ao dólar. As preocupações com o crédito imobiliário do tipo “subprime” [alto risco] nos Estados Unidos faz com que o investidor crie aversão ao risco”, explica.
Diante desse cenário, Medeiros afirma que os papéis da dívida brasileira (Global Bonds), assim como as ações das empresas com maior liquidez (Petrobras e Companhia Vale do Rio Doce) começam a sofrer perdas. O mesmo cenário é verificado nos demais países emergentes. “O investidor começa a vender coisa boa para pagar outras ruins”, afirma.
O gerente de câmbio da Novação, José Roberto Carreira, reafirma que o mercado doméstico reage aos temores do mercado internacional. “Todo efeito aqui é do mercado lá de fora. O mercado está preocupado com o caso dos dois fundos australianos que tiveram os pagamentos de seus títulos suspensos”, diz Carreira. Segundo ele, o mercado suspeita de que existam outros fundos na mesma situação.
Carreira descarta que o movimento do câmbio no mercado nacional seja um problema interno. “O Brasil é um país emergente. Há muita gente investindo aqui. O mercado recua e pressiona o dólar. E também é um momento do exportador realizar”, diz Carreira.
Quanto aos caminhos que o câmbio deve tomar nos próximos dias, Carreira diz que não há nada definido. “Tem de ficar de olho no mercado lá fora. É preciso ver como o mercado asiático vai reagir nessa madrugada”, afirma.
Para finalizar, Medeiros diz que após vários meses recebendo diversas críticas, o cenário começa a mostrar que o Banco Central brasileiro tinha razão. “O BC sempre deixou claro que o foco era o núcleo da inflação e que o câmbio era flutuante. Ele entra no mercado para comprar moeda apenas para evitar especulação, tanto que fez isso hoje, mesmo com a moeda em alta. Se o dólar voltar para a casa de R$ 2,10 ou R$ 2,15, o BC ganhará um enxurrada de dinheiro e terá mantido a inflação sob controle”.