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Espetáculo em Cuiabá explora uma dramaturgia da morte

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A morte é fato que não se pode mudar. A ausência é irreversível e desequilibra a ordem de quem segue. Amparados pelo existencialismo e baseados em pesquisas sobre o ritual fúnebre bororo, os atores da Companhia de Teatro Faces apostam numa dramaturgia da morte.

O espetáculo Boé – Nos Tempos do Garimpo, projeto aprovado pelo edital Circula MT, inicia circulação no Espaço Cultura do Teaf, em Alta Floresta, no sábado (09) e domingo (10), às 20h e 19h30, respectivamente. O projeto cênico prevê ainda a realização de uma oficina voltada a atores e não-atores. Nas dinâmicas, trabalham a escrita do corpo em cena do irreversível.

De acordo com o diretor do Grupo de Primavera do Leste, Darci Souza Junior, o espetáculo explora a relação do indivíduo dentro de sua interação com a morte. “Boé caminha entre a tradição e o novo num mundo de interferências e desencontros onde uma alma, já sem corpo, deve encontrar seu lugar”, explica.

Segundo ele, a construção do espetáculo deu-se por meio de processos colaborativos de criação baseada em pesquisa antropológica de como as sociedades se relacionam com as perdas e como ritualizam suas mortes. “É como se todo o ritual representasse um estudo pronto de ator, que busca no empirismo sua maneira de dizer. Nele acontece todo o ritual fúnebre bororo. As interrelações entre a vida e a morte são mostradas através da movimentação simbólica entre o ideal indígena e a intervenção urbana”.

Darci ressalta que “Boé” é uma palavra Boé-Bororo que quer dizer “gente humana”. Através do ritual de morte Boé-Bororo, os corpos que permanecem em vida tentam se adequar a um universo que perde uma imperceptível parte (o corpo que morreu) diante de outros bilhões de corpos. O ser que deve matar e o ser que deve morrer e o universo que sente falta de suas partes e entra em desequilíbrio pela falta da menor que seja. “É uma história sobre a morte”, arremata.

A companhia escolheu cidades-chave para circular. Todas têm como característica o garimpo de ouro e de diamantes, mas, principalmente a presença de comunidades indígenas. Assim, a Circulação propõe discutir as potencialidades do contato do índio com o não-índio e seus desencadeamentos.  Na rota, estão Itiquira (16 e 17 de abril), Pedra Preta (23 e 24 de abril) e Poxoréo (27 e 28 de abril). 

“O Projeto Circula MT vem para desenvolver umas das maiores problemáticas do Estado. A circulação de suas produções e o fortalecimento de espaço de trânsito dos espetáculos. Um projeto assertivo para o desenvolvimento das Artes da Cena de Mato Grosso”, finaliza Darci. 

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