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Trump e Macunaíma

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Alexandre Garcia

No discurso de posse, Trump poderia estar se dirigindo aos brasileiros; eu me senti vestindo a carapuça muitas vezes. E já no início, quando ele anunciou que começava uma era de ouro, em contraposição com o fim de tempos de declínio. Sacudiu-me como brasileiro, porque parecemos masoquistas, que temos prazer com a decadência, o descumprimento das leis, o lixo, o crime, a mentira, o aplauso a espertalhões. Trump quer volta aos tempos de construção da América grande, de ocupar o meio-oeste e conquistar o oeste, por patriotas que venceram desafios formidáveis; aqui, estamos em tempo de condenar patriotas, de condenar os que conquistaram o centro-oeste e os que tentam ocupar o norte sempre cobiçado por estrangeiros.

Trump recordou que tentaram tolher-lhe a liberdade de concorrer à presidência e até tirar-lhe a vida, com o tiro que era para a cabeça mas feriu a orelha. Poderia estar se comparando a Bolsonaro e a faca que quis tirar-lhe a candidatura e a “inelegibilidade”, que hoje tem o mesmo objetivo. Disse Trump que no seu governo vai prevalecer o mérito e não a cor da pele ou a genitália. No Brasil, seria difícil. Aqui o “quem indica” é muito forte – e cor da pele e genitália são argumentos para ganhar direitos. Trump anunciou que cartéis serão considerados como terrorismo estrangeiro – aqui, os cartéis do crime estão cada vez mais entrelaçados com a política e o estado nacionais. Também vai combater o crime aumentando o poder da polícia; quando Bolsonaro fez isso, as estatísticas de crimes violentos despencaram; mas hoje, por aqui, se estimula o crime, esvaziando poder da polícia e constrangendo os policiais, enquanto se inverte: o assaltante é vítima da sociedade. Não vamos esquecer a Constituição e nosso Deus – disse Trump. Por terras brasileiras, isso até que valeu e rendeu frutos, mas hoje até os que juraram defender a Constituição a esquecem – e o nome de Deus só é lembrado para demagogia.

Quando Trump prometeu retomar o Canal do Panamá, porque fora dado ao Panamá mas os chineses é que o estão administrando, lembrei das instalações da Petrobras na Bolívia, que foram ocupadas militarmente por Evo Morales, com zero reação do governo Lula. Trump vai combater a inflação do dólar contendo o excesso de gastos do governo – no mesmo dia, Lula, com uma multidão de ministros em torno de mesa gigantesca, prometia baratear os alimentos da magra mesa do trabalhador; mas não reduz o excesso de gastos com seu próprio governo, nem a dívida pública, que paga altos juros para ser sustentada – num custo que se espalha para todos. Para taxar menos os americanos, Trump vai taxar mais quem vende para os americanos, principalmente os chineses. Por aqui, os chineses ampliam presença e o governo tentou enquadrar no imposto de renda os informais do setor mais baixo da renda.

A liberdade de expressão é a jóia da coroa do governo Trump. Jamais o governo irá perseguir seus opositores – disse Trump. Aqui, criticar é crime, segundo o governo e alguns jornalistas. Trump sabe que a ambição impulsiona uma nação; no Brasil, os empreendedores, os de iniciativa, são criticados pela inveja ideológica.  Gente que condena(e queima) bandeirantes de ontem,  hoje faz o mesmo com os novos bandeirantes da Amazônia. Trump saúda os pioneiros do passado e lança os do futuro, com a conquista de Marte. Aqui, não conseguimos fazer uma pequena linha de trem-bala. Fomos colonizados pelos mesmos europeus, africanos e asiáticos. Por que os Estados Unidos são os primeiros no mundo e nós o eterno “país do futuro”? Eles têm maior número de prêmios Nobel e nós, nenhum; festejamos Macunaíma. Valeria um exame de consciência, examinando os motivos, depois de sacudidos pelo discurso de Trump.

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