Na Guerra Civil Espanhola, o general franquista Milan Astray emitiu um grito que entrou para a história das imbecilidades: Viva la muerte! Aqui no Brasil parece que andamos gritando bastante viva a ignorância! Por boa parte de minha vida, eu assisti ao estímulo ao saber, à leitura, à informação, ao raciocínio, à curiosidade. E não havia os meios eletrônicos que hoje potencializam a informação. No entanto a facilidade do moderno está estimulando a ignorância, a imbecilidade, a selvageria, a futilidade. Hoje passei por um colega que mostrava no computador fotos de sua viagem a Roma, no momento em que ele aparecia diante do gigantesco monumento a Vittorio Emanuele II – e alguém perguntou o que seria aquilo. Ele respondeu com desdém: é um tal de Emanuel… Foi a Roma, o berço da nossa civilização latina, e não quis aprender nada. Nem mesmo sobre o alvíssimo Altare della Pátria.
Entrar em redes sociais na internet é o modo de fazer um bom diagnóstico da ignorância que grassa. As mensagens estão cheias de erros de português, de informação, de lógica. O pensamento sai torto, pobre. Hoje recebi um texto raivoso contra a Veja, escrito por um radialista, que em vez de argumentar, usava expressões chulas, que eram a pobre munição produzida pelo seu cérebro pouco usado. Quando não se tem substantivos, apela-se para os adjetivos, e não se produzem argumentos, mas imprecações. E quando as imprecações se esgotam sobrevêm os grunhidos e, depois deles, paus e pedras. Foi assim na convenção regional do PMDB na capital da República, nesse fim-de-semana. Foi assim, também em Brasília, que depredaram um quartel dos bombeiros, onde se refugiara a torcida goiana vítima de ataques de torcedores locais do Gama. Selvageria pura, cada vez mais crescente, com a ausência de argumentos.
Ainda na capital dos brasileiros, um marmanjo de 27 anos, enquanto esperava na fila de uma lanchonete drive thru, escutava, por todos altofalantes do carro, a todo volume, um horrendo rap, às três e meia da madrugada. Foi quando levou um violento soco na cara. Os pais do desordeiro declararam que o filho é pacato. Mentira! Quem agride uma cidade às três e meia da madrugada com o barulho insuportável de um rap, não é um ser pacato. É um perigoso perturbador de algo extremamente precioso: o nosso sono. Não justifico a agressão, mas imagino que o agressor também virou selvagem, tomado de incontrolável ira, depois de tanta vuvuzela. Ou foi um soco de Morfeu.
Estamos deixando de lado a urbanidade, que é a forma organizada e inteligente de se relacionar na urbe. Não temos noção da civilidade, que é a maneira de todos viverem bem, respeitando os direitos alheios, na cives. Agimos como se estivéssemos sós, na selva. Infernizamos as vidas dos outros e somos vítimas também da ignorância alheia. Esquecemos tudo que nos legaram, nesses últimos três mil anos, pensadores gregos, romanos, franceses, alemães, espanhóis, ingleses e portugueses. O sinistramente correto está optando por outras culturas, mais atrasadas, jogando fora os avanços. Vamos voltar para antes da Idade Média.