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Quem tem medo de Yonai ?

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A blogueira cubana Yoani Sanchez se tornou celebridade no Brasil graças aos grupos que apóiam a ditadura mais antiga e mais antiquada do planeta. Teria passado com mais discrição pelo Brasil não fosse o escândalo da reunião na embaixada de Cuba, de que participou funcionário do Palácio do Planalto. Imaginem que o funcionário alegou que estava passando por lá, para pegar um visto – na seção consular, é claro – e, de repente, viu-se participando de uma reunião na embaixada, quando alguém pôs nas mãos dele um extenso dossiê contra Yoani. Aparentemente o dossiê grudou nas mãos dele, como grudou os lábios que deveriam ter denunciado a irregularidade a seus superiores. Como um funcionário de cargo de confiança deve saber, a reunião e o dossiê mostram que foram ultrapassados os limites da atividade diplomática. Até a Veja denunciar o escândalo, 10 dias depois, a Presidência da República nada sabia de parte do funcionário. Depois, numa nota, explicou que tudo fora obra do acaso, e que ele não usara o dossiê e o destruíra com auxilio de uma tesoura. Quer dizer, destruiu as provas e se omitiu do dever de denunciar uma agressão à nossa soberania.

Tudo bem; poderia ter sido pior. Imaginem se fosse no governo anterior, com Tarso Genro Ministro da Justiça e Lula na Presidência. Poderia ter acontecido com Yoani o que aconteceu com os dois boxeadores cubanos, nos jogos sul-americanos, que saíram da delegação para fugir da ditadura dos Castro. Jogando no lixo o direito de asilo, o governo os prendeu e os devolveu a Cuba, num avião de Hugo Chavez. Agora, ela teve no Brasil a liberdade que não teria em Cuba para fazer palestras e falar em auditórios. Foi censurada, sim, e impedida de falar, por grupos de apoio ao regime cubano que, em Cuba, não teriam a menor chance de fazer algo semelhante. Imaginem o que aconteceria se alguma autoridade cubana fosse impedida de falar por grupos barulhentos… E a Associação Brasileira de Imprensa ficou quietinha ante a censura a uma jornalista visitante.

O Senador Eduardo Suplicy foi um fiel escudeiro de Yoani nos momentos mais difíceis. Foi o único político do PT a defender o direito de ela se expressar. Também a defenderam o líder do PSOL, Ivan Valente e o deputado Alfredo Sirkis, do PV, quando tentaram impedir que ela falasse na Câmara Federal. Foi um caro custo conseguir que a TV Câmara registrasse o evento. Ela saiu felicíssima; nunca havia experimentado o entrechoque de opiniões em regime de liberdade. Lembrei-me de um refugiado cubano, de quem me tornei amigo. Quando ele entrou num supermercado em Brasília, chorou emocionado com a abundância de mercadorias na prateleira. Na minha casa, ofereci-lhe vinho e ele me revelou que seria a primeira vez na vida que beberia vinho.

No rádio desde muito jovem, noticiei a saga de Fidel na Sierra Maestra e torci pela derrubada da ditadura de Fulgencio Batista. Iniciava o ano de 1959. Três anos antes, Fidel havia desembarcado em Cuba com apenas 80 homens, num barco velho, o Granma. E derrubou um ditador. Hoje, a ditadura dos Castro já dura mais de meio século, e teme uma blogueira, que agora consegue desembarcar no mundo, para mostrar que o simpático povo da bela ilha do Caribe já não merece sofrer.

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