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Primavera na urna

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Alexandre Garcia

No próximo domingo as urnas nos esperam, para decidirmos nosso próprio futuro e de nossos filhos e netos. Vamos dar procuração para outros brasileiros agirem em nosso nome, fazendo e mudando leis, administrando o dinheiro de nossos impostos. Não é o único momento em que o poder emana do povo, mas é o mais importante, porque formaliza a outorga do poder. Votei pela primeira vez em 3 de outubro de 1960. Meu eleito, Jânio Quadros, renunciou no ano seguinte, criando uma crise que nos tirou o voto direto para presidente. De Castello a Tancredo-Sarney, seis presidentes foram eleitos pelo Congresso.
Quando voltou a eleição direta para presidente, em 1989, a polarização Lula x Collor no segundo turno foi semelhante à de hoje, com ânimos à flor da pele, esquerda e direita se digladiando. Eu cobri aquela campanha, mediei o debate final entre os dois, comentei várias vezes o IBOPE, transmiti os resultados – mas não lembro dos nomes dos ministros do Tribunal Eleitoral nem dos juízes do Supremo daquela época. Naquele tempo, esses tribunais agiam com discrição, sem intromissão ou ativismo. Collor ganhou e depois sofreu impeachment. No Supremo foi inocentado sob a constatação de que notícia de jornal não é prova. Assumiu o vice Itamar, que nos deu o Real e o fim da hiperinflação.

Depois vieram eleições presidenciais com disputas entre PSDB e PT, entre mais esquerda e menos esquerda. Após o desastre da corrupção e apropriação do estado, apareceu Bolsonaro, despertando uma maioria que o elegeu em 2018. Naquele ano, houve polarização direita x esquerda, mas atenuada porque Lula estava cumprindo pena. Condenações anuladas e liberado para ser candidato, pelo voto de juízes que hoje comandam o TSE, Lula voltou à cena e a campanha ficou acirrada, embora ele não tenha se exposto às ruas. Agora faltam cinco dias para ser julgado pelos eleitores. Os dois candidatos acham que vencem no 1º turno; um olha para as pesquisas e outro olha para as ruas. Como nunca houve tanta pesquisa, elas foram tão noticiadas quanto a movimentação dos candidatos. Vai ser um teste definitivo das pesquisas, que erraram feio na última eleição presidencial.

Nunca vi uma campanha tão animada nem uma escolha tão fácil. Afinal, os dois submetidos ao julgamento das urnas são bem conhecidos. Lula foi presidente por oito anos e comandou o PT que governou seis anos depois dele. Uma exposição de 14 anos no governo. Bolsonaro, no próximo domingo, terá 3 anos e 9 meses de presidência. O que os dois fizeram e deixaram de fazer é conhecido por todos. De nenhum eleitor será aceita a desculpa de “eu não sabia”.

No último dia 22, entrou a primavera, estação das flores, da renovação  da vida. Vamos votar em plena primavera. Que tudo que ela simboliza nos inspire a contribuir para que se espalhe uma longa primavera sobre todos nós, brasileiros, até nossos bisnetos.

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