Maiara Coelho, oito anos, morreu há pouco no hospital público de Imperatriz, Maranhão, depois de dez dias internada com meningite. Não havia UTI para ela, mesmo com mandado judicial. O Juiz da Infância e Adolescência de lá reconhece que a Justiça não consegue mudar a triste realidade. Ela é a 17ª criança que morre em Imperatriz neste ano, por falta de UTI. Por pura coincidência, no mesmo dia, a Folha de S.Paulo publicou a descoberta de que Fernando Sarney transferia 1 milhão de dólares das Bahamas para uma fábrica de bicicletas na China dias depois de a Suíça ter bloqueado 3 milhões de dólares de uma transferência, também dele, segundo o mesmo jornal, de 13 milhões de dólares para Liechtenstein, outro paraíso fiscal. Não há como deixar de registrar a simbologia disso.
Acabam de condenar o casal Nardoni pela morte cruel de uma criança, mas não se perguntam quantas crianças morrem neste país por cruel falta de recursos para os hospitais públicos, para o saneamento, para o combate às drogas e à violência. Os corruptos vão dormir tranqüilos porque fingem não perceber a gravidade de seus crimes. Imaginam que dinheiro público não é de ninguém e que não estão a matar ninguém. Errado. O dinheiro público é de cada um de nós, que trabalhamos duro todos os dias para pagar o imposto que está embutido em tudo que compramos, mais os impostos que pagamos diretamente, sem a contrapartida em bons serviços públicos.
Se eles superfaturam contratos para pagar mensalões de todas as siglas ou simplesmente receber comissões, o dinheiro dos nossos impostos é que sustenta essa corrupção e deixa de ser aplicado nos hospitais, onde pessoas estão morrendo e sofrendo por falta de médicos, de equipamentos, de medicamentos. Falta para as escolas e matam o futuro; falta para o saneamento e para a segurança, e mata-se no presente. A corrupção é crime contra os direitos humanos e, se foram somadas todas as vítimas da falta do dinheiro que é desviado, pode-se imaginar que o corrupto é um genocida.
Vamos para a frente do fórum de Santana, a nos indignar com os Nardoni, e no entanto ficamos passivos ante a corrupção epidêmica. Não percebemos que o dinheiro público não é do prefeito, nem do governador, nem do presidente, nem do deputado, vereador ou senador? O dinheiro público é do público; é nosso. E alguns de nós ainda justificam, como gritam os partidários de Arruda aqui em Brasília: Rouba mas faz. Ora, se você tiver uma empregada que faz boa comida, boa limpeza da casa, mas rouba; você concordaria em que ela roube mas faça? Se tiver, na sua empresa, um empregado trabalhador que desvia material do almoxarifado, você acha bonito, o rouba mas faz? Na verdade, você reagiria porque percebe que o dinheiro é seu. Mas basta o seu dinheiro ter passado pelos cofres de alguma receita pública, você já acha que não faz mal roubarem de você. Se você não gritar, vão continuar. E as Maiaras vão continuar sendo assassinadas pelos corruptos.