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O fator Moro

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Alexandre Garcia

Foi uma grande perda para o governo, a saída do ex-juiz Sérgio Moro, símbolo do combate à corrupção e um dos ícones do ministério. Ainda ministro, fez denúncias contra seu chefe,  segundo as quais Bolsonaro queria ter “relações impróprias com a Polícia Federal. Despediu-se oferecendo-se  “à disposição do País”. Quando Mandetta estava no auge, um veterano prócer político do Paraná me disse que iria lançá-lo como imbatível candidato à Presidência da República. Alertei-o de que se tratava de um cometa. Brilhou e passou. Moro tem mais luz própria, está mais para astro e pode gravitar na política.

Perda para o governo sim, mas sua saída pode atrapalhar a oposição, se não ficar restrita à sua perda de uma carreira de juiz e de uma cadeira no Supremo. Pode ser candidato anti-Bolsonaro. E aí o sonho Moro vira pesadelo  para aspirantes que se expuseram à chuva antes do tempo. Moro deixa a esquerda no dilema de ter que elogiar o juiz que condenou Lula  e os tesoureiros do PT. Pode ser instrumento de quem se alia até ao coronavírus para enfraquecer o presidente. Mas, como ele disse, tem a biografia. Que ficou arranhada com a divulgação dos prints de pessoas que nele confiaram, seu chefe e sua afilhada de casamento.

O Ministro-relator Celso de Mello concedeu a abertura de investigação sobre as denúncias de Moro contra o Presidente, para apurar  apurar os interesses do Presidente na PF, mas também para saber se houve denunciação caluniosa e crimes contra a honra por parte de Moro. No Supremo, Gilmar, Lewandowski e Toffoli são críticos do juiz Moro. O mesmo acontece com Rodrigo Maia, com a esquerda magoada e com investigados do centrão, na Câmara.

Rodrigo Maia acaba de repetir que não é tempo de impeachment. Ele sabe que não há votos para isso. Só as bancadas ruralista, evangélica e da segurança já garantem que não passa. Além do que a esquerda há de se perguntar se não seria melhor ficar desgastando Bolsonaro a ter na presidência um duro como Mourão. O mais decisivo é que não há impeachment sem povo. Goulart foi derrubado porque antes o povo ocupou as ruas; Jânio não conseguir voltar atrás na renúncia, porque o povo não saiu por ele; Collor pediu povo a seu favor e o povo veio contra; e Dilma foi o que vimos.

Moro saiu e o presidente aproveitou para vitaminar Guedes e Tereza Cristina, encerrando incertezas do mercado e do agro. E Bolsonaro põe na Polícia e no Ministério gente de confiança. André Mendonça é um premiado no combate à corrupção. Ramagem fez a segurança do candidato Bolsonaro. A mudança deixa mais tranquilo o Presidente. Mas para a oposição, o fator Moro “à disposição do país” pode ser motivo de intranquilidade.

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