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Jornalista de diploma

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Dilma e Serra Privilegiam Nichos Corporativos Diferenciados – você entendeu a frase? Que diabo é isso? Parece trecho de algum memorando empresarial bem burocrático, mas não é. É a manchete de um importante jornal da capital do Brasil. Foi alguém com diploma de jornalista que produziu esses hieróglifos, esse patoá. Um burocrata sem vocação jornalística. Pois deve ter sido um bando de burocratas assim, supostamente representando verdadeiros jornalistas, que deve ter convencido os deputados a aprovarem, na Comissão Especial que trata de emenda à Constituição, a exigência de diploma de jornalista para exercer a profissão. A exigência fora derrubada pelo Supremo, em junho do ano passado, por inconstitucional, já que restringe a liberdade de expressão, limitando-a aos que tiverem diploma de jornalista. Como faltam duas votações no plenário da Câmara e duas no plenário do Senado, ainda há tempo para argumentar contra a exigência do diploma de jornalista.

Sou insuspeito, porque tenho diploma de jornalista. Fui primeiro lugar no vestibular e em todo curso. Lecionei em duas faculdades de jornalismo, na PUC e no CEUB, e num curso de jornalismo em Montevidéu. Sei que ninguém precisa de oito semestres para ser jornalista. O que é preciso é ter vocação – faro para a notícia e capacidade de contá-la -, talento – para saber contar – um grande conhecimento de tudo, sobretudo História, a ciência básica do jornalista. E uma bagagem sem fim de conhecimentos gerais, com humildade de saber que sempre sabe pouco e com curiosidade bastante para sempre querer saber mais. E conhecer a ferramenta, a Língua. A manchete medíocre que desilustra a abertura deste artigo é exemplo de quem não sabe que a comunicação se dá com simplicidade e objetividade, como resumiu Churchill, ainda jornalista na Índia, em 1898: Das palavras, as mais simples; das mais simples, as mais curtas.
Pois bem, o que interessa para a sociedade a quem os jornalistas servem? Se eles têm ou não têm diploma de jornalista, ou a qualidade da informação? Não importa a opinião de comentaristas ou de editorialistas e colunistas. O que importa é se a notícia é verdadeira, expressa numa linguagem simples, clara e objetiva para todos entenderem e com a credibilidade conferida pela isenção e neutralidade de quem a transmite. Ou seja, o que dá credibilidade à notícia é a imparcialidade com que ela é produzida e o conhecimento que tem o jornalista do fato e de suas causas e conseqüências. Assim, não é a exigência de diploma de jornalista que está em questão e, sim, a competência do jornalista. E nenhum jornal, revista, TV ou emissora de rádio vai cometer a bobagem de contratar alguém incompetente. Quando fui diretor da TV Manchete e depois da TV Globo em Brasília e alguém pedia emprego mostrando currículo e diplomas, antes de olhar os diplomas eu o mandava para a rua e voltar com uma reportagem.

Pode-se exigir diploma para médico, engenheiro, mas não para jornalista, ou economista. Imagine-se exigir diploma de administrador de empresa para promover alguém a gerente. A exigência do diploma de jornalista nada mais é que criar um cartório para proteger medíocres. E proteger escolas superiores de jornalismo que proliferam sem qualidade, em que professores são, às vezes, gente que não deu certo nas redações e nos microfones.

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