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Capa e espada

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Cada vez que o governo se aperta, aparece mais do mesmo para aliviar. No início de julho, quando o governo estava sem resposta para os Jovens de Junho, apareceu a primeira "denúncia" de espionagem americana nos nossos meios eletrônicos de comunicação. Como aquela notícia já se esmaecia no tempo – como tudo por aqui – foi renovada com outra, de que estão arapongando as ligações da presidente com seus assessores – certamente o mais visado deva ser o assessor para política externa, Marco Aurélio Garcia. Ele já fora espionado por uma câmera de TV, que o flagrou fazendo top-top quando se noticiou a causa do desastre com o avião da TAM em Congonhas, há seis anos, em que morreram 200 pessoas.

Desde Nabucodonosor as nações espionam as outras – amigas ou inimigas. Espanha e Portugal se espionavam na época do descobrimento do Brasil. Portugal distribuía falsas informações de rotas marítimas, para fazer a contra-informação. Quando cobri a Guerra das Malvinas, a embaixada brasileira em Buenos Aires era uma boa fonte de informação, porque acompanhava tudo. Os americanos nunca esconderam que espionam. Tenho um livrinho deles, de capa-dura, chamado National Intelligence, editado em 1964, que conta tudo sobre a comunidade de inteligência. Lá está a NSA – National Security Agency. O livro, ostensivo, diz qual é a função da NSA, com todas as letras(a tradução é minha): "A interceptação e a decodificação de comunicações estrangeiras está a cargo da NSA, do Departamento de Defesa".
Os outros países do mundo sempre souberam, portanto, que a NSA intercepta e decodifica suas comunicações. Como hoje, na era digital e dos satélites, tudo está no ar – ou na nuvem – ficou mais fácil interceptar. Os países que queiram preservar suas informações têm que adotar contramedidas, como fazia Portugal há 500 anos. O jornalista Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, no seu livro Sobre o Islã, falando de atitudes dos Estados Unidos e Inglaterra na II Guerra, escreve: "Nações democráticas tomando medidas de exceção para fazer vencer a democracia."

Segundo a notícia da espionagem, a NSA colocaria o Brasil no mesmo nível de suspeição que o Egito e Irã, o que parece um erro de avaliação ou sinal de que os americanos sabem mais do que sabemos nós, brasileiros. O governo brasileiro está irritado com a revelação de que até a presidente pode ser monitorada em suas ligações telefônicas com assessores, embora o documento não cite diálogo algum. Tem razão de existir a irritação. Não esqueçamos que a espionagem americana também está a serviço de interesses comerciais – que também são considerados como interesse nacional.

Mas vamos ter que nos contentar em reclamar em órgãos internacionais, já que não temos outros meios para impor nossa soberania. Um único porta-aviões americano pode ter mais poderio bélico que toda a nossa Marinha e Força Aérea. O efeito maior é doméstico, quem sabe para aliviar manifestações marcadas para o Sete de Setembro.

 

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