Foi um ano recordista, esse 2014 que agoniza. Recorde em homicídios, recorde em mortes cada vez mais cruéis. Recorde em assaltos, recorde em explosões em caixas eletrônicos. Recorde em matança no asfalto, recorde em pegas, em rachas, em infrações à lei no volante; recorde em bebedeiras na direção de veículos; recorde de gente, de barulho, de lixo na rua. Recorde de buraqueira nas pistas, de falta de fiscalização, de falta de educação. Recorde de exibicionismo, recorde de frenética busca de ser célebre por cinco minutos nas redes sociais.
Como foi ano eleitoral, também foi recorde de falsidade, mentira e fingimento. Recorde de hipocrisia, de enganação. E também recorde de alienação, de indiferença, de irresponsabilidade. Foi recorde de endividamento, de juros, de consumismo, de calote. Recorde de corrupção, de delação, de má-intenção. Recordes no petrolão, superando o recorde do mensalão. Recorde de impunidade.
O ano acaba, cheio de recordes, mas já um perdedor. Quem passou a conhecer esse país recordista prevê que o 2015 será recordista de novo. E será, se relegarmos tudo o que sofremos ao esquecimento, sem lições a aprender, sem ações a mudar, sem votos de que se arrepender. Afinal, tem sido assim nas últimas décadas, tal como as chuvas de verão na região sudeste. Sempre vêm, sempre virão, e sempre derrubam, matam, destroem, sem que tenhamos nos prevenido, como fazem os chilenos com seus terremotos.
As festas de virada do ano, com fogos luzindo nos céus e palcos cheios de sons e canhões de luz, mostram que queremos esquecer nossos males, como seria saudável para a mente. Mas esquecer é não aprender nem mudar. É deixar que venha igual ou pior. O futebol tem sido a nossa fórmula para esquecer, mas até nisso fomos recordistas, com os 7 a 1 da Alemanha. Em fevereiro de 2007 bandidos arrastaram o menino João Hélio pelas ruas do Rio até que ele morresse. Dias depois fizeram carnaval, enchendo a Marquês do Sapucaí. Foi a aprovação da morte cruel e violenta, que aumenta, recordista a cada ano. A festa do reveillon vai aprovar o ano que passou e também o que está nascendo. Luzes nos nossos olhos cegos.