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A verdadeira discriminação

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Pretendo demonstrar que estão discriminando para combater a discriminação. No sábado, meus colegas de redação receberam o chamado de freqüentadores de um shopping, denunciando que um vigia estava discriminando um menino negro. O fato foi este: a mãe entrou no shopping com seus dois filhos, um branco e um negro, adotivo. O menino negro fazia bagunça, batendo nas vitrinas e o vigia foi chamar-lhe a atenção. Foi o que bastou para que os circunstantes  hostilizassem o vigia, acusando-o de preconceito. Quando a reportagem chegou lá, os circunstantes confirmaram a denúncia contra o vigia, mas a mãe argumentou que ele tinha razão, que o menino realmente estava quase a quebrar vitrinas. Nossa equipe foi embora, ante o preconceito discriminatório que acusava o vigia. Se fosse o filho branco a ameaçar os vidros, o vigia poderia xingá-lo sem que ninguém o acusasse de discriminação.

 Todos os dias testemunhamos casos parecidos. Passo com freqüência pelo campus da Universidade de Brasília e sempre fico curioso quando vejo a placa “Centro de Convivência Negra”. E fico a imaginar que se houvesse um Centro de Convivência Branca, ele seria fechado pelo Ministério Público, sob acusação de discriminação racial ou nazismo. Na Universidade, foi feito um atalho na tradicional seleção por mérito, abrindo-se reserva de vagas em que se decide pela cor da pele – o que é óbvia discriminação racial, mas é lei…

Sábado passado, em Duque de Caxias,RJ, realizou-se uma parada gay. O juiz da infância e adolescência proibiu a presença de crianças e adolescentes no desfile. Foi qualificado de preconceituoso por outros integrantes do Poder Judiciário. Passaram por cima do Estatuto da Criança e do Adolescente, que visa a proteger as crianças. Enquanto isso, no Congresso Nacional, tramita um projeto que considera crime não dar emprego a portadores de HIV. Não entendi. Por décadas se pediu abreugrafia para saber se a pessoa não é portadora de tuberculose, antes de ganhar emprego. E, como sabemos, tuberculose é uma doença curável. Fico a pensar se sou preconceituoso por não entrar num elevador que se abre e dentro vejo uma pessoa gripada a espirrar.

Na Veja desta semana, Lya Luft(imagino que movida pelos tristes fatos da moça da Uniban, com vestido acima da linha da calcinha) escreveu o seguinte sobre preconceito contra mulheres: Esse preconceito é demorado e obstinado e nós mulheres colaboramos com ele dando nossa melancólica parcela, por exemplo, no jeito como nos portamos, como nos vestimos, como agimos no trivial….Enquanto nos portarmos feito crianças pouco inteligentes, ou enquanto nosso maior trunfo forem nádegas firmes, fica difícil reclamar que não nos respeitam o bastante. Aí eu fico imaginando se não é discriminação contra o homem haver uma ministra da Secretaria Especial dos Direitos da Mulher, e nada sobre os direitos do homem, que é torturado nas delegacias comuns e acusado na Delegacia da Mulher.

Nós, jornalistas, somos preconceituosos. Notem que se a pessoa é pobre, chamados de “seo”. Se usar gravata, é “senhor” ou “doutor”. Mulher pobre é “dona”; bem-vestida é “senhora”. Me revolto com isso. Meu melhor amigo da infância é negro; tenho excelentes colegas e amigos negros e jamais levei em conta a cor da pessoa, mas seu caráter; tenho amigos gays e os acho excelentes companhias, pessoas sensíveis e inteligentes; convivo com portadores de HIV com normalidade; nada tenho contra as mulheres; pelo contrário, só a favor. Sou branco, heterossexual, homem, e  não me sinto desprotegido. Mas me parece serem  confirmações de discriminação, certas atitudes contra a discriminação.  George Orwell foi premonitório em A Revolução dos Bichos: “Todos são iguais; mas alguns são mais iguais que os outros.”

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