Tem gente prevendo novas manifestações de rua no país inteiro quando setembro vier. Se estão prevendo, já não será o mesmo levante imprevisível que levou tanta gente às ruas e janelas, de forma espontânea e sem comando. Como os jovens de junho, nada será. Depois de brotar de forma surpreendente, agora voltou ao estilo antigo, de defesa de interesses próprios, políticos, ideológicos ou fisiológicos. Os jovens de junho eram altruístas, clamavam pelo país, não pelo emprego, ou pelo partido, ou pelo sindicato, ou pela orientação sexual ou religiosa. Os jovens de junho, que depois expulsaram da Avenida Paulista até os interesseiros do Movimento Passe Livre, queriam um Brasil melhor, mais justo, com escolas e hospitais em lugar de estádios, com honestidade na política em lugar da corrupção, com paz em lugar de 150 homicídios por dia, enfim, defendendo o que interessa a todos e não apenas a uma facção.
Depois do ataque à Assembléia do Rio e ao Itamaraty, e ao saque de lojas e agências bancárias, outros, defendendo seus umbigos, foram expulsando pelo terror os jovens de junho. Os vândalos originais, de 2 mil anos atrás, saquearam Roma sem esconder a cara. Os mascarados daqui tiveram os jovens de junho das ruas, invadindo lojas e bancos – "grupos de neonazistas, préfascistas, organizações niilistas nacionais e internacionais, além de gangues ordinárias de ladrões e assaltantes", como identificou o cientistas político Wanderley Guilherme dos Santos, no jornal Valor do último dia 26.
Para os verdadeiros vândalos da Educação, da Saúde, da Segurança, do Transporte Público, dos nossos impostos, do campo e da cidade, foi um alívio os jovens de junho não terem ficado, com seus cartazes improvisados com palavras mais certeiras que os coquetéis molotov dos arruaceiros. Sumiu a denúncia precisa contra a esperteza e a demagogia e apareceu um grupelho que foi ajudado pela omissão da polícia, demorando para chegar. Apareceu só depois dos saques, talvez para mostrar ao país inteiro, como os "jovens de junho" podem se tornar perigosos se insistirem pedindo a saída dos governadores Alkmin e Cabral, ou dos corruptos dos três poderes, ou a prisão para os mensaleiros.
Por enquanto, nenhuma resposta foi dada aos jovens de junho. O Congresso virou e mexeu, aprovou o inócuo e voltou à letargia. A presidente ouviu mal, anunciou constituinte, plebiscito, importação de médicos e tudo entrou no errático caminho de avanços e recuos do governo. As ruas devem se consolar com o Papa. Francisco mostrou a virtude da humildade como antíodoto da arrogância e circulou no hostil ambiente urbano do país que mais mata no planeta, com um carrinho simples e de vidros abertos. Mas os governantes continuam em seus carros de luxo e de vidros fechados e com película filtrante. Só passa cor-de-rosa.