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Soja: disparada do dólar muda dinâmica do mercado no Brasil

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A recente disparada do dólar mudou o mercado brasileiro da soja nas últimas semanas. A tendência de alta da moeda americana, como explicam especialistas, continua e as boas oportunidades para os produtores do Brasil já se estendem, inclusive, para a comercialização da temporada 2018/19.

Uma combinação de fatores externos – especialmente ligados à economia dos Estados Unidos – e de incertezas intensas que rondam o Brasil em ano de uma nebulosa eleição presidencial aproximam a divisa dos R$ 3,80 e levam as cotações da oleaginosa, em um momento de conclusão de entrada da nova safra, a se aproximarem dos R$ 90,00 por saca.

Somente nesta sexta-feira (17), o dólar subiu 1,04% e fechou o dia com R$ 3,7396, após bater em R$ 3,7774 na máxima da sessão, que foi a sexta consecutiva de valorização – com alta, no intervalo, de 5,44%. Na semana, a valorização da divisa foi de 3,85%. E esta é a quarta semana de alta para a moeda, onde o ganho é de 9,61%.

“O dólar vai continuar subindo aqui enquanto lá fora a moeda não acalmar”, destacou um gestor de derivativos de uma corretora local à agência de notícias Reuters.

Em um levantamento feito pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bitencourt Lopes, no acumulado da semana, as principais referências entre os portos de Paranaguá e Rio Grande subiram 1,18%. Dessa forma, o produto disponível ficou em R$ 86,00 no terminal paranaense e com R$ 85,50 no gaúcho. Nos melhores momentos da semana, os indicativos chegaram a bater nos R$ 87 e até R$ 88 por saca.

No interior do Brasil, os ganhos acumulados chegaram a 3,03%, como foi o caso de Sorriso, em Mato Grosso, com o último preço em R$ 69 por saca. Há praças no Paraná que ainda mantêm seus indicativos acima dos R$ 80 e nos outros estados, acima dos R$ 70.

Segundo explica o consultor em agronegócios Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, esse é, de fato, um cenário atípico, já que trata-se de um ano de safra boa e preços melhores ainda. Além disso, o mercado ainda viu a safra da Argentina sofrer uma das piores quebras da história – sendo estimada pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires em somente 36 milhões de toneladas após uma severa estiagem -, o que estimulou uma demanda ainda maior pela oleaginosa brasileira.

Complementando o quadro, os Estados Unidos e a China engataram uma séria disputa comercial, com os negócios com a soja, praticamente, em um dos principais focos das discussões e negociações, trazendo os chineses ainda mais à oferta do Brasil, além dos demais importadores.

“A soja no spot só não está mais cara porque nossos corredores de exportação estão lotados”, diz Fernandes, relatando line-ups cheios para o mês de maio, com a capacidade dos portos completamente comprometidas. Para os meses seguintes, os compradores seguem ávidos e já há muitos negócios sendo feitos para junho, julho e agosto.

E as margens – incrementadas, principalmente, por essa dispara do dólar – cria um ambiente favorável para estes novos negócios, diante de margens muito favoráveis para os sojicultores brasileiros. “E essas margens são ainda melhores para os produtores que já estão com seus insumos comprados.

Embora a alta do dólar encareça parte desses insumos, ainda assim o momento é oportuno. “O dólar responde por 38% do custo do produtor, mas impacta em 100% de seu faturamento”, explica o consultor.

Safra 2018/19

Nesse ambiente, os negócios com a soja da safra 2018/19 também já começam a acontecer. Afinal, o dólar frente ao real não sobe só no mercado spot, mas também no futuro, ainda segundo Fernandes. Nesta sexta-feira (18), por exemplo, a divisa chegou a bater em R$ 3,79 para março/19 e R$ 3,81 no maio/19.

“Embora em um ritmo mais lento – porque há incertezas ainda sobre a nova safra – os negócios estão acontecendo e o produtor está aproveitando esse dólar futuro para garantir suas margens. Os preços para o ano que vem, base porto, estão muito próximos dos de hoje”, diz Fernandes.

A comercialização da nova safra tem sido motivada, também, pelo bom momento das relações de troca. Como explicou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, neste ano já se vê algo entre 15% e 20% menos soja necessário para a aquisição dos insumos.

Ao se considerar Mato Grosso, por exemplo, que é sempre o estado mais adiantado em suas compras, os preços de média – que também são baseados nos portos – tem algo próximo de R$ 84,50 por saca, o que garante boas margens ao sojicultor.

Para Brandalizze, já há cerca de 10% da nova safra brasileira negociada.

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