A pecuária de leite, em 2017, experimentou, pela primeira vez, nos últimos anos, uma redução significativa dos preços pagos aos produtores em reais. Todas as curvas representativas desses valores demonstraram queda, em plena época de entressafra, quando os produtores normalmente experimentam incremento. A análise é de Alberto Figueiredo, membro da Diretoria Técnica da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e da Academia Nacional de Agricultura.
No entanto, segundo Figueiredo, em razão do estímulo provocado por preços mais elevados em 2016, a produção brasileira de leite deve crescer em 2017, em relação ao ano anterior, voltando ao patamar dos 35 bilhões de litros, atingido em 2014.
Alberto Figueiredo, membro da Diretoria Técnica da SNA e da Academia Nacional de Agricultura, afirma que o grande desafio para a cadeia produtiva do leite no Brasil, em 2018, será a racionalização de custos, da produção ao varejo. Foto: divulgação
De acordo com a zootecnista Juliana Pila, analista da Scot Consultoria, o bom cenário para o mercado, no primeiro semestre de 2017, deu lugar às incertezas e à queda dos preços ao produtor e aos demais elos da cadeia na segunda metade do ano. “Em função da demanda ruim na ponta final da cadeia e do crescimento da produção, o mercado perdeu sustentação”, avalia.
“A cotação do leite pago ao produtor vem caindo desde o pagamento de junho de 2017. Em novembro, considerando a média nacional, a cotação caiu 1,6% na comparação mês a mês, queda de 8,2% em valores nominais frente a igual período de 2016”, acrescenta Juliana.
Segundo ela, um ponto importante é que a produção de leite nas regiões Sul e Nordeste estão diminuindo, o que deve ajustar, em parte, a disponibilidade de leite no País e diminuir a pressão de baixa.
Quando se compara o valor de remuneração ao produtor em dólar, com os valores internacionais, chega-se à conclusão que os parâmetros atuais se aproximam da normalidade. “Essa realidade obrigará os produtores a serem mais eficientes, reduzindo seus custos de produção para se manterem na atividade”, alerta o diretor da SNA.
De acordo com Figueiredo, o principal problema da cadeia produtiva do leite em 2017 foi a estagnação do consumo de produtos lácteos, que provocou a elevação de estoques e de custos industriais e de comercialização, fazendo com que sobrasse menos para a remuneração do produtor.
Espera-se que, em 2018, a economia brasileira inicie uma modesta recuperação, influenciando na recuperação parcial do emprego e do poder aquisitivo da população, permitindo pequena elevação no volume de produtos lácteos, equilibrando a oferta e a procura.
Segundo o Índice de Captação de Leite da Scot Consultoria, na média nacional, o volume captado pelos laticínios aumentou 2,5% de janeiro a novembro, comparativamente com igual período de 2016. Juliana credita o aumento da produção, depois de dois anos de queda, ao clima favorável e ao recuo no custo de produção, principalmente ao relacionado à dieta, com destaque para o milho e o farelo de soja.
O Índice de Custo de Produção da Scot Consultoria para a atividade leiteira está crescendo desde agosto. De lá para cá, acumula alta de 5%. “Cabe destacar, porém, que apesar da alta nos últimos meses, o custo está 9,4% menor na comparação ano a ano”, diz a analista. “Para o produtor, com o aumento de custo e as seguidas desvalorizações no preço do leite recebido, as margens se estreitaram no segundo semestre.”
Para o diretor da SNA, o grande desafio para a cadeia produtiva do leite no Brasil, em 2018, será a racionalização de custos, da produção ao varejo. Nesse sentido, ele afirma que os produtores precisam melhorar os índices de eficiência e o sistema de transporte, diminuindo a ociosidade.
Já as indústrias, devem buscar um processo mais econômico de produzir, reduzindo o custo a patamares sustentáveis. Para isso, ele recomenda avaliar processos de integração operacional ou mesmo fusões e incorporações, chegando aos distribuidores, que precisam se especializar, mais inspirados nas empresas de logística, indo até o varejo.
“Por força da salutar competição, os distribuidores precisarão trabalhar com margens mais adequadas ao tipo de produto, que tem um preço final ao consumidor muito baixo se comparado a outros produtos de alimentação”, diz.
Figueiredo afirma que surgirão oportunidades para produtores (pessoas físicas ou jurídicas) que consigam exercer controle completo sobre a atividade, com detalhamento individual por vaca, e que, produzindo alimentos dentro das fazendas, consigam ser competitivos.
“As indústrias, por sua vez, terão a oportunidade de sair do achismo, e partirem para diversificações ou especializações em produtos de qualidade. Com isso, os consumidores poderão usufruir de um leque maior de opções para uma escolha de qualidade e preço”, prevê.
Segundo Juliana, a expectativa é de manutenção dos preços aos produtores em janeiro de 2018 e de reação nas cotações a partir de fevereiro. “A previsão é de uma amplitude maior das altas de preço para o produtor no primeiro semestre de 2018, frente ao verificado em igual período de 2017.”
Quanto à produção, ela afirma que a previsão é de crescimento comedido na produção, entre 1,5% a 2%, ou seja, abaixo do registrado em 2017, mas dando continuidade ao aumento da produção interna.
Em relação ao consumo interno, espera-se uma retomada do crescimento, porém, em ritmo mais fraco que o observado antes da crise. “Estima-se uma ligeira retomada da demanda interna por produtos de maior valor agregado, como iogurtes e leite condensado, entre outros”, justifica Juliana. “Alguns indicadores econômicos deverão colaborar para este cenário, tais como, o recuo da taxa de desemprego e o avanço do PIB (produto interno bruto).”
Para o pecuarista, a situação é de cautela, já que a atividade vem de dois anos de margens apertadas e prejuízos em muitos casos. “O custo de produção maior exigirá planejamento para a compra de insumos. Ouviremos falar mais sobre o clima também, depois de um 2017 favorável em termos de chuvas”, alerta a analista.
As informações são da assessoria da SNA.