Pecuaristas que criam gado nelore de Mato Grosso estão obtendo rentabilidade até 10 vezes maior com a utilização de técnicas mais modernas de preparo de solo, aliadas ao manejo adequado do rebanho. Esse é o exemplo do empresário Breno Molina, da Fazenda Onça-Pintada, que possui 370 hectares em Poconé, no Pantanal. Com a profissionalização do negócio, ele já agregou três vezes o valor do seu rebanho. “Enxergo a fazenda como uma empresa, por isso tenho investido na intensificação do que eu tenho, sem expandir para os lados ou abrir novas áreas. Muita gente diz que é loucura, mas, com o apoio de uma equipe de profissionais qualificada estou atingindo recordes de produção. Alcancei, por exemplo, uma taxa de lotação 5 vezes maior que a média nacional de gado no pasto, isso mantendo máxima qualidade”.
Com um rebanho bovino de mais de 30 milhões de cabeças, o maior do país, o estado enfrenta a transição da antiga cultura, em que se soltava o gado no pasto para colher bezerros, para a profissionalização do negócio. O desafio é manter a atividade atrativa economicamente, por isso o perfil do produtor está mudando de ‘dono de fazenda’ para ‘fazendeiro’. “Sou a terceira geração de criadores e a mais ousada. O meu pai, que possui maiores áreas, vem adotando as mesmas técnicas só que mais devagar, já que o investimento é mais alto”.
Ele explica que o primeiro passo foi a contratação de um engenheiro agrônomo para fazer a análise completa do solo. “Antigamente o meu pai jogava mais de 1 tonelada por hectare de calcário para a correção do solo. Depois que obtivemos as análises, passamos a jogar apenas a quantidade que o solo precisava, gerando uma economia já no primeiro ano suficiente para pagar todo o trabalho técnico do engenheiro, com visita mensal, por 2 anos”. A mesma lógica se aplica ao manejo rotacionado de pasto, com subdivisão em piquetes. “Enquanto eu faço divisão em 8, ele (meu pai) divide ao meio ou em 4 partes”.
Outro produtor, Renato Melo, que possui duas propriedades, uma de 30 hectares em Chapada dos Guimarães e outra de 48 hectares em Cuiabá, na saída para Rondonópolis, também tem utilizado com sucesso há mais de 18 anos técnicas de cuidados com o solo e nos últimos cinco anos de pasto rotacionado. “No sistema antigo a gente tinha meia vaca por hectare, não investia nada, mas não ganhava nada também. Meu lucro com a produção aumentou de 8 a 10 vezes, o mais importante é que reflete na produção e qualidade da carne”.
Semana passada, a Associação dos Criadores Nelore de Mato Grosso (ACNMT) promoveu duas palestras com os especialistas na área para tratar justamente da intensificação da produção animal a pasto com adubação do solo. Na avaliação de Luciano Godoy, a diferença na alta tecnologia aplicada hoje à agricultura em contrapondo com a pecuária é reflexo, principalmente, da maior demora em obter resultados. “Um produtor de soja, por exemplo, tem lucro imediato, com até três meses já está colhendo. Agora o pecuarista tem que ser mais paciente”.
Godoy explica que enquanto as demais culturas utilizam uma média 350 kg de fertilizante por hectare de solo, na pastagem normalmente não ultrapassa 7 kg/ha, ou seja, tradicionalmente uma baixa adubação, o que implica em retirada de folhas e nutrientes, deixando o solo mais empobrecido e com menor capacidade de suporte de animal. “Quando o investimento é planejado, o retorno é ótimo, supera culturas anuais de soja e milho. Nos últimos 10 anos, quem seguiu este conceito vem se firmando no mercado”.
Outro técnico na área, Marcell Patachi Alonso, diz que assim como a construção de uma casa, a base para se produzir no campo é focar no preparo do seu alicerce, que é o solo. Todo trabalho desenvolvido vira pasto e produto animal. Um dos equívocos frequentes é ter um ‘super pastejo’, que enche os olhos do produtor, mas que na prática, por falta de adubação, é de baixo valor nutricional para o gado; ou por outro lado, é possível encontrar pasto em condição extrema e que se parece um campo de futebol.
“A premissa é manter fertilidade química e estrutural do solo, oportunizando que a planta desenvolva raízes e forragem, caso contrário, se a fundação (raiz) ficar mal estruturada, a planta cresce, mas o resultado é baixa produtividade e qualidade. É importante salientar que somente o protocolo de correção e adubação não faz mágica, deve haver um bom manejo do rebanho, pois não adianta haver um buffet para 80 convidados e só virem 50, ou virem 80 e faltar comida. Sem acompanhamento, o produtor perde dinheiro”.
Desde abril deste ano, a Associação Nelore vem promovendo palestras, sempre às segundas-feiras, com o intuito de promover a interação entre os criadores e também levar informações sobre novas tecnologias e técnicas de produção sustentável. Para o presidente da entidade, Mario Candia, é sempre possível fazer mais e melhor, com investimentos programados e que têm retorno. “Queremos promover mudanças positivas e avançar cada vez com a cadeia produtiva da carne no estado”.
Estudos promovidos pela Embrapa Amazônia Oriental no Pará mostram que a cada R$ 1 investido, o produtor pode obter de retorno R$ 4. Enquanto que na pastagem tradicional, o retorno é de apenas R$ 1,30, mas somente nos anos iniciais, pois o valor vai decaindo até virar prejuízo.
Para evitar a degradação de pastagens, a instituição lançou no ano passado uma cartilha que dá dicas. Além das perdas econômicas, um pasto degradado traz muitos prejuízos ambientais à propriedade. Os especialistas avaliam que é importante o uso de tecnologias para tornar a atividade responsável, empresarial, permitindo que o pasto seja eterno, com ganhos superiores ao produtor. A informação é da assessoria.